Reduzir salários no privado é «ilegal» - TVI

Reduzir salários no privado é «ilegal»

UGT - João Proença

UGT alerta que recomendação da troika é «extremamente perigosa»

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O secretário-geral da UGT, João Proença, considerou esta sexta-feira que reduzir os salários no setor privado, como defendeu a troika, para além de «ilegal» é «extremamente perigoso».

Em declarações aos jornalistas em Viseu, onde participou no IV Congresso Empresarial da Região, João Proença lembrou que já «está a haver um abaixamento do salário real» que não pode ser ignorado.

«Os salários estão a crescer abaixo da inflação. Não é só a penalização forte que estão a sofrer os trabalhadores da administração pública e do sector empresarial do Estado, mas também do sector privado».

Exemplificou que, no terceiro trimestre, a negociação coletiva, que abrangeu a construção civil, o têxtil e o calçado, «subiu um por cento e a inflação anda à volta de quatro», ou seja, «há uma perda de três por cento do salário real».

Na opinião de João Proença, ir além «do ajustamento que é feito por via da negociação colectiva é ilegal e extremamente perigoso», quer do ponto de vista social, porque «vai agravar os descontentamentos e aumentar a conflitualidade», quer económica e financeiramente.

«Ainda vai fazer com que o crescimento económico seja pior, ou seja, a recessão seja maior», alertou, lembrando que as empresas, que na sua maioria vivem do mercado interno, não terão condições de vender, gerando «menos emprego e mais recessão».

Por outro lado, acrescentou, corre-se o risco de «haver uma escalada relativamente ao crédito mal parado», com as pessoas a deixarem de pagar ao banco, que, «logo, empresta menos à economia».

A troika defendeu quarta-feira que o sector privado deve seguir o exemplo do sector público e aplicar reduções salariais.

«A fim de melhorar a competitividade dos custos da mão de obra, os salários do setor privado deverão seguir o exemplo do sector público e aplicar reduções sustentadas», diz o comunicado da missão conjunta da Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional.

O secretário-geral da UGT admitiu que se deve «discutir seriamente a competitividade das empresas», nomeadamente no que respeita à economia clandestina, lamentando que o funcionamento da justiça em Portugal tenha hoje «um custo muito grande» para as empresas.

«Ninguém paga a ninguém. O Estado cada vez paga mais tarde e, entre particulares, agrava-se o pagamento das dívidas».

Realçou que hoje se assiste à «situação dramática» de empresas rentáveis e competitivas que venderam os seus produtos mas, como não lhes pagam, «não têm dinheiro para comprar matéria-prima e vêm-se obrigadas a fechar» porque ninguém as financia.

«A falta de financiamento à economia está a começar a provocar a paralisação da própria economia. Tem de haver uma resposta imediata do Governo», defendeu, considerando que, «a bem ou a mal», os bancos devem usar os 12 mil milhões de euros que têm disponíveis.
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