Crise financeira vai afectar Portugal - TVI

Crise financeira vai afectar Portugal

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Para alguns especialistas a crise mundial aumenta as dúvidas sobre a retoma, em que os riscos inerentes são cada vez maiores.

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Tempos de incerteza na economia global. Dúvidas sobre a retoma da economia portuguesa. Mais de um mês depois do início da crise financeira internacional, originada pelo crédito de alto risco hipotecário («subprime») nos Estados Unidos, os especialistas reunidos pelo «Diário Económico» para debater os efeitos da turbulência nas economias mundial e portuguesa admitem que, apesar de ser cedo para quantificar, os riscos estão aí e são reais.

«A crise vai ter implicações porque sabemos que os consumidores norte-americanos foram o motor da economia mundial» apontou Teodora Cardoso, economista e consultora do Banco BPI. «A correcção irá ter efeitos sobre o dólar, algo particularmente importante para a Europa. O efeito sobre a procura (externa) tem também relevância, sobretudo para a Alemanha, o que para a economia portuguesa é um problema», acrescentou.

Para Portugal, o risco está no facto de os efeitos da crise ameaçarem os motores da economia: o motor actual (as exportações) e os futuros (o consumo privado e, sobretudo, o investimento).

Nas exportações os riscos são visíveis: o euro bate máximos históricos (já tocou os 1,413 dólares) e, por outro lado, espera-se o abrandamento dos principais mercados das empresas portuguesas, como a Alemanha, os EUA e, sobretudo, Espanha. «Outro factor que pode ser muito mau para nós é o contágio da turbulência financeira aos países com maiores semelhanças com os EUA no crédito imobiliário, aí Espanha (o maior cliente e investidor em Portugal) é o nosso grande problema», comentou Teodora Cardoso.

Fed poderá voltar a cortar taxas

Por agora, falta saber a intensidade do abrandamento da economia global. «Não será muito normal que, daqui a seis meses ou um ano, haja uma recessão nos EUA», apontou Ricardo Reis, economista e professor na universidade de Princeton, que participou em video-conferência a partir dos Estados Unidos.

A queda do preço das casas nos EUA e o contágio para o consumo das famílias é um risco, mas não uma certeza, no caminho de uma recessão está ainda a Reserva Federal Americana. «Não me surpreenderia se, na próxima reunião, o Fed voltasse a cortar as taxas em 25 pontos base ou mesmo 50», indicou Ricardo Reis.

Além do contágio a partir do exterior, os especialistas apontaram o peso sobre o investimento. «Os bancos portugueses estão a desacelerar as operações e isso tem impacto. Há uma escolha mais cuidadosa daquilo que é feito», indicou Leonardo Mathias, director-geral em Portugal da Schroders, uma das maiores gestoras internacionais de activos.

«Também João Duque, professor na área financeira no Instituto Superior de Economia e Gestão, sublinhou a questão do aperto do crédito. ¿Pode haver sectores que sofrem, como a construção e o imobiliário, mas as grandes empresas não têm de recorrer aos bancos para financiamento», apontou. O problema coloca-se, sobretudo, no plano das pequenas e médias empresas, cerca de 90% da indústria em Portugal.

A incerteza surge na altura em que se prepara a apresentação do Orçamento do Estado para 2008, em que a previsão do crescimento da economia é decisiva para prever, por exemplo, a receita fiscal. «Não queria estar na pele de quem tem que fazer previsões», desabafou Teodora Cardoso. «Os ministros das Finanças terão que ser prudentes, para não haver derrapagens», acrescentou. O ministro Teixeira dos Santos indicou na semana passada que, por enquanto, não vê razões para alterar as estimativas anteriores ¿ para 2008 o Governo está a trabalhar com um crescimento de 2,4%.

Turbulência terá consequências pesadas

A instabilidade financeira global «deverá prolongar-se», avisou ontem o Fundo Monetário Internacional (FMI). «As potenciais consequências deste episódio não deve ser subestimadas», apontou o FMI no seu Global Financial Stability Report, divulgado ontem em Washington.

«Os riscos de deterioração da situação aumentaram sensivelmente e, mesmo que não se concretizem, este período de turbulências.
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