«Como vou para o trabalho?» - TVI

«Como vou para o trabalho?»

Greve geral no Porto (foto - Filipe Caetano)

Greve geral atingiu principalmente os transportes, a saúde e a educação públicas. Impacto mais forte em Lisboa, com o metro totalmente parado, enquanto no Porto houve poucos comboios. O PDiário esteve na rua para perceber a dimensão do protesto

Em dia de greve geral foram quase inexistentes os serviços de transporte a funcionar na Grande Lisboa. No Grande Porto o impacto foi menor, fazendo-se sentir sobretudo nos comboios urbanos e sendo praticamente inexistente no Metro, apesar de uma sabotagem ter provocado alguns constrangimentos. Os autocarros circularam com limitações, mas a STCP já informou que a adesão foi de apenas 11,5%. O PortugalDiário foi para a rua sentir o pulso da acção de protesto convocada pela CGTP.

No metro da Amadora era cada vez maior o aglomerado de pessoas que ao descer a escadaria de acesso dava de caras com o portão fechado. Este foi um dos maiores problemas sentidos logo bem cedo. «E agora como vou para o trabalho?», perguntava Ana Maria, «tenho de estar no trabalho às 9h». Ana trabalha numa superfície comercial no Marquês de Pombal e não tem outra alternativa que substitua a linha azul que segue até à Baixa Chiado. Táxis estavam mesmo à mão mas fora de questão. «O patrão não me paga o táxi!», explicou, sentindo o incumprimento de serviços mínimos que tinham sido estipulados para as linhas azul e amarela.

Nos hospitais a adesão à greve também se fez sentir, nomeadamente ao nível dos enfermeiros. Um aviso na porta do edifício das consultas externas do Hospital de São José, por exemplo, informava: «Consultas adiadas». No Hospital de S. João, no Porto, a situação era similar, com um piquete da CGTP a garantir que a adesão estava perto dos 80 por cento.

António Marques, em Lisboa, tinha uma consulta de cirurgia marcada há mais de um mês e face à falta de enfermeiros e médicos viu-se obrigado a regressar mais cedo a casa. «Isto é uma chatice», contou ao PDiário, «mas entendo os motivos», reforçou. Manuel António, no Porto, admitia que «tudo parecia funcionar normalmente».

No hospital de São José a greve de enfermeiros foi «superior a 90 por cento», revelou Rui Santos do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses ao PDiário. «Mais de uma dezena e meia de enfermeiros deveria estar a trabalhar e nenhum veio ao local de trabalho», reforçou. No São José, todas as consultas de especialidades foram canceladas e adiadas devido à greve. A greve dos profissionais de saúde neste hospital, «parou os serviços», explicou o sindicalista. Segundo dados da CGTP, no Hospital S. João, de 18 serviços 15 aderiram a cem por cento. Logo ali ao lado, no Instituto Português de Oncologia, registou-se uma adesão de 80 por cento por parte dos enfermeiros.

Transportes e educação

Não foi só na área da saúde que se notou a falta de trabalhadores, uma vez que também os transportes e a educação assistiram a níveis significativos de adesão à greve. Algumas empresas privadas viram os seus trabalhadores manifestar-se, como aconteceu no pólo industrial do Barreiro e até nas lojas Continente de Gaia e Matosinhos.

«Não há metro, não há comboios, não há carro temos de nos sujeitar às filas nas paragens», referiu Rosa Sousa às 11h, em Lisboa, quando deveria ter entrado ao serviço nas Laranjeiras às 9h30. No Porto, as filas de trânsito aumentavam, a chuva era um tormento e o desespero apoderava-se de dezenas de pessoas que esperavam por um comboio na Estação de São Bento. «Parece impossível. Não aparece um único transporte há mais de meia hora», queixava-se Maria Elvira, que observava o painel de partidas. No espaço de uma hora chegou um comboio de Santo Tirso e partiu outro para Ovar. O resto não saiu da gare.

Na cidade Invicta a educação também foi afectada. Em várias escolas foram muitos os alunos sem aulas. Na «António Sérgio», de Gaia, muitos eram os que se abrigavam da chuva junto ao café «intervalo», congratulando-se por não terem aulas. «Acho muito bem que façam greve», diziam os alunos em uníssono. Na «Rodrigues de Freitas» a maior adesão foi dos auxiliares, mas a escola foi funcionando a meio gás e sem cantina.

Registo, ainda, para os serviços da Câmara do Porto, com grande adesão ao nível da recolha de lixo e dos varredores.
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