Os «fantasmas» da Síria lavam as mãos de Assad - TVI

Os «fantasmas» da Síria lavam as mãos de Assad

Massacre de Houla

Milícia shabiha protege o regime com raptos, torturas e execuções. Fazem o «trabalho sujo» que o presidente não pode assumir

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Dizem que só o nome faz tremer a Síria. Shabah, em árabe, significa fantasma. Nos anos 80, eram traficantes de droga que entraram no círculo de amizades do presidente Bashar al-Assad. Em 2011, ressurgiram como uma arma secreta para travar a revolta.

Segundo fontes da ONU, há «fortes suspeitas» do envolvimento da milícia shabiha nas maiores atrocidades cometidas nos últimos meses neste país, principalmente no massacre de Houla, que fez 108 mortos no fim de maio.

O regime de Assad, que se distancia da repressão que já fez milhares de mortos, culpa os «grupos terroristas armados», mas não se atreve a pronunciar este nome.

«Os shabiha fazem o trabalho sujo do regime. Assim o governo pode dizer: não fui eu, não sou responsável», afirmou à AFP o diretor do Grupo de Pesquisas e Estudos do Mediterrâneo e Médio Oriente (GREMMO), Fabrice Balanche, que comparou esta milícia aos esquadrões da morte: «É uma maneira de aterrorizar as pessoas».

A verdade é que não há provas concretas da ação desta milícia. Dizem que são bárbaros e temidos por todos, que andam à paisana e fazem o que lhes apetece: detenções arbitrárias, execuções sumárias e tortura. São muitas vezes «jovens, desempregados dos subúrbios, que, se lhes derem dinheiro e uma Kalashnikov, se sentem todo-poderosos», acrescentou Balanche.

Um analista em Damasco, que pediu para se manter anónimo, garantiu que «as autoridades não só toleram, mas exploram o fenómeno dos shabiha». «O contrato é: se garantires que não há manifestações, em troca podes fazer o que quiseres», explicou, avisando que um dia o regime pode deixar de controlar o «Frankenstein que o próprio criou».

Segundo o responsável do Observatório Sírio para os Direitos Humanos, Rami Abdel Rahman, os shabiha «dão cobertura ao regime quando os massacres são cometidos». Esta entidade calcula que cerca de seis mil homens pertençam a esta milícia, sendo que alguns terão sido mesmo integrados nos serviços de segurança sírios.

A maioria deles são alauítas, tal como o clã Assad, pelo que acabam por lutar pela sua própria sobrevivência perante a maioria sunita da oposição. «São os maiores apoiantes do regime e têm medo da vingança sunita» se o regime cair, reforçou Fabrice Balanche.

Especialistas em raptos e assaltos, os shabiha têm o seu quê de máfia. «O regime pagava-lhes salários, mas, com a crise económica, deu-lhes luz verde para pilharem os bairros», disse Omar Shakir, ativista em Homs.

Já Dany Hamwi, um ativista que se encontra em Hama, acredita que a milícia serve para desresponsabilizar o exército e, assim, diminuir o número de desertores. «Um general ou um soldado podem recusar as ordens para matar, mas um shabih é leal até ao fim», concluiu.
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