À medida que as temperaturas sobem e o verão se aproxima, chega a altura do ano em que os turistas de todo o mundo rumam à costa italiana.
Mas a enorme popularidade das duas maiores ilhas de Itália, a Sicília e a Sardenha, conhecidas pelas suas praias imaculadas e águas azuis vívidas, tem tido um custo para o ambiente local, com o lixo e o roubo de areia entre os maiores problemas.
No entanto, este verão, as autoridades locais estão a tomar medidas adicionais para preservar o ambiente, impondo limites diários rigorosos aos visitantes, com algumas das praias mais bem cotadas das populares ilhas na linha da frente.
Embora Baunei, uma pequena aldeia situada numa zona remota do leste da Sardenha, tenha implementado limites diários de visitantes em anos anteriores, as restrições ao número de banhistas autorizados a visitar algumas das mais belas praias ao longo dos seus 40 quilómetros de costa com vista para o Golfo de Orosei vão ser ainda mais rigorosas este verão.
Um número insustentável de visitantes
"A nossa terra é constituída principalmente por falésias altas e escarpadas onde vivem muflões [ovelhas selvagens] e falcões, e apenas uma dúzia de praias, pelo que toda a gente se aglomera nelas, enchendo-as de gente", diz Stefano Monni, presidente da Câmara de Baunei, à CNN.
"Não podemos continuar a ter milhares de banhistas todos os dias num só local, como no passado, é insustentável."
São quatro as praias afetadas. Cala dei Gabbiani e Cala Biriala têm agora um limite diário de 300 visitantes, enquanto Cala Goloritze tem um limite de 250 visitantes por dia e Cala Mariolu, a maior das praias, tem um limite diário de 700 pessoas.
Aos visitantes da Cala Goloritze, que só é acessível a pé ou de barco, será cobrada uma taxa de entrada de seis euros.
Os banhistas devem reservar o seu lugar em todos estes locais através de uma aplicação chamada Cuore di Sardegna (ou Coração da Sardenha), pelo menos 72 horas antes da sua visita. A taxa de entrada para a Cala Goloritze pode ser paga online ou em dinheiro na entrada da enseada.
De acordo com as autoridades locais, esta taxa permite financiar a vigilância, um parque de estacionamento e a manutenção dos caminhos e das casas de banho da praia.
"Todas estas praias, mesmo as de entrada livre, estão arrumadas e limpas", acrescenta Monni. "Há vigilância, assistência aos banhistas e serviços de limpeza. Se as pessoas quiserem, podem deixar uma pequena contribuição."
Em Cala Mariolu, uma das praias mais famosas da Sardenha, é agora aplicada uma taxa de um euro por passageiro a todos os barcos ou botes que aqui atracam.
"Temos de proteger este paraíso e o seu frágil ecossistema", acrescenta Monni.
O presidente da Câmara diz que as águas de Baunei foram classificadas como o mar mais bonito de Itália em 2022 pela Legambiente, um grupo de pressão ecológico italiano. É também um sítio de interesse europeu devido às espécies de animais e aves protegidas.
"É preciso estabelecer limites, caso contrário tudo se desmorona", sublinha.
Monni diz que a Cala Mariuolo foi tomada por até 2.000 turistas por dia em anos anteriores, uma situação que descreve como "carnificina".
A zona costeira de Baunei recebe cerca de 300 mil turistas todos os verões.
Numa tentativa de reforçar as restrições, Monni apresentou um pedido às autoridades regionais da Sardenha para que seja implementada uma distância obrigatória de seis metros quadrados entre os banhistas em toda a costa.
Não será um processo fácil. Embora Monni esteja confiante no controlo do acesso às enseadas por terra, tem plena consciência de que restringir o acesso por mar será mais difícil. Os barcos privados, iates e canoas continuam a aparecer na zona, muitas vezes vindos das cidades vizinhas.
"Só podemos controlar as chegadas por mar se as embarcações forem conduzidas pelos operadores turísticos autorizados com os quais temos acordos e numa base rotativa, não ultrapassando duas horas nas praias para cada grupo de embarcações", explica Monni.
Proibição de toalhas de praia
Baunei não é o único local de férias na Sardenha que está a tentar manter o número de turistas baixo este verão.
Stintino, uma aldeia piscatória na costa norte, está a adoptar medidas rigorosas para proteger o seu bem mais deslumbrante - a praia de coral rosado de La Pelosa, que oferece vistas da ilha Isola Piana, conhecida pela sua torre de vigia de pedra.
Batizada com o nome das plantas herbáceas e peludas (pelosi em italiano) que sobressaem das suas dunas de areia macia, La Pelosa é uma das mais belas - e concorridas - praias de Itália.
Na época alta, as suas areias são muitas vezes um labirinto de toalhas e banhistas, enquanto um mergulho nas suas belas águas envolve normalmente um ziguezague entre inúmeros colchões insufláveis.
"Limitámos o número de turistas em La Pelosa a 1500 por dia, com um bilhete de 3,50 euros. As reservas e os pagamentos podem ser feitos num site autorizado", diz a presidente da Câmara de Stintino, Rita Limbania Vallebella, recordando um dia solarengo de agosto, quando as autoridades municipais terão detetado cerca de 38 mil turistas a nadar nas águas de Stintino.
"Foi chocante e nojento. Destruiu o habitat natural, provocando a erosão das areias. Não suporto que os turistas deitem lixo nas dunas, o que nunca fariam no seu país."
Para evitar uma ocorrência semelhante no futuro, Vallebella está a reprimir os "transgressores da natureza" com patrulhas na praia e uma série de proibições.
Cães, fumar e roubar areia são proibidos nesta praia, assim como o uso de toalhas de praia, com multas a partir de 100 euros.
"Em La Pelosa só são permitidas esteiras. Ao contrário das toalhas que se molham, a areia não se cola às esteiras, de preferência se forem de fibra e palha. Já perdemos muita areia por causa das toalhas de praia", explica Vallebella.
Entretanto, também existem restrições na praia vizinha de Le Saline. Os campistas já não podem estacionar "de forma selvagem" na costa de seixos finos ou perto da lagoa, que alberga aves e espécies vegetais protegidas.
Reservas antecipadas
Na Sicília, a ilha de Lampedusa, uma das ilhas Pelágias, também impôs restrições turísticas num local muito popular.
Com as suas águas azuis e límpidas, a praia de Isola dei Conigli tem sido repetidamente nomeada pelos viajantes como uma das melhores praias do mundo, pelo que não é de admirar que todos os anos se juntem aqui grandes multidões.
De acordo com o conselheiro local Totò Martello, mais de 1500 pessoas visitavam diariamente a praia, local de desova de tartarugas, antes da introdução de um limite máximo, juntamente com uma taxa de entrada de dois euros, paga no local.
"Este número foi agora reduzido para metade, apenas 350 pessoas de manhã e outras 350 à tarde", diz Martello. "As reservas são feitas online, através de um site local autorizado."
Os banhistas devem aderir a um "código de praia" específico, que incentiva os visitantes a permanecerem no seu local de banhos de sol, a menos que estejam a dar um mergulho na água.
As espreguiçadeiras e os colchões de água flutuantes são proibidos e o ruído deve ser reduzido ao mínimo.
"O verão pode ser difícil. Há cerca de 6.700 habitantes, mas durante as férias chegam aqui mais de 200.000 turistas. Torna-se insuportável para o ambiente e inabitável para todos", diz Filippo Mannino, presidente da Câmara de Lampedusa.
Martello diz que planeia proibir durante 40 dias a chegada de carros e scooters de turistas e não residentes durante o pico do verão.
Para controlar o número de iates e barcos privados que ancoram na baía, Mannino está a fazer pressão para que a Isola dei Conigli seja, no futuro, classificada como um parque marinho protegido.
Os carros de turismo já estão proibidos em Linosa, a ilha vulcânica mais pequena e negra de Lampedusa, que permite apenas 200 visitantes por dia, segundo Martello.
A medida surge pouco depois de Mannino ter aprovado uma medida para punir os "vândalos" que despejam lixo em Lampedusa e Linosa, apreendendo os seus carros.
Entretanto, a ilha de Giglio, ou Isola del Giglio, situada ao largo da costa da Toscânia, introduziu uma taxa de desembarque de três euros, enquanto os carros só são permitidos para estadias superiores a quatro dias em agosto.
Com 1.400 habitantes durante o inverno, os visitantes atingem um pico diário de 10.000 no verão, elevando o total anual para 300.000.
Procida, outra das ilhas italianas sem carros, também está a lutar contra os "atropelamentos e fugas".
Com apenas quatro quilómetros quadrados, a ilha é uma das mais densamente povoadas da Europa, com uma população de cerca de 10.000 habitantes.
No entanto, cerca de 400.000 pessoas visitam-na todos os anos, a maioria das quais durante o verão.