Sou “um jovem médico que vê com muita tristeza e agonia um dos bens mais preciosos deste país ser destruído lentamente” - TVI

Sou “um jovem médico que vê com muita tristeza e agonia um dos bens mais preciosos deste país ser destruído lentamente”

    Francisco Almeida
    Interno de Medicina do Trabalho no IPO de Coimbra
  • 21 out 2023, 10:00

Interno de 31 anos fala sobre o estado do Serviço Nacional de Saúde

Uma simples opinião de um jovem médico que vê com muita tristeza e agonia um dos bens mais preciosos deste país ser destruído lentamente, como quem assiste a um incêndio deflagrar com ventos e temperaturas altas na retaguarda!

O SNS atravessa, provavelmente, um dos piores períodos desde a sua criação! Algo que era atrativo e que mantinha um grande poder de persuasão sobre os profissionais de saúde, neste momento apenas consegue o oposto. Vamos fazer um pequeno exercício: imaginem um trabalhador da função pública com um contrato de 40h semanais (que na prática são 50 a 80h) mais 150h extra “obrigatórias” por ano. Sim, são os médicos!

Agora imaginem que estes têm o desplante de quererem cumprir o contrato laboral e dedicar mais tempo à sua vida pessoal. Um ultraje, não? Devem estes ser responsabilizados pela má gestão dos últimos anos no SNS? Faz sentido que o SNS funcione à custa da boa vontade dos médicos? Sejamos sinceros, neste momento, o que é que atrai um jovem recém-especialista a ficar ligado ao Sistema Nacional de Saúde? Questões remuneratórias? Condições de segurança e trabalho? Progressão na carreira? Um horário compatível com o desejo de um bom equilíbrio entre trabalho/vida pessoal? Respeito pela profissão? Sensação de realização pessoal/profissional?

Se formos olhar aos últimos 8 anos, claramente o Primeiro Ministro e os Ministros da Saúde, escolhidos por ele, para além de não saberem, as decisões por eles tomadas têm tido o efeito contrário!

É, ainda, com muita tristeza que todos os dias leio ou ouço entrevistas ou declarações que demonstram um enorme desprezo, falta de respeito e consideração pelos médicos! Imaginem se este Ministro da Saúde fosse médico e em 1992 tivesse lutado pelos mesmos direitos que os médicos exigem hoje em dia, imaginem só… Será que atingimos um ponto de não retorno?

Deixo esta questão em aberto para que todos possam refletir um pouco sobre o assunto, principalmente quem tem a responsabilidade de garantir a saúde de todos os portugueses. Termino acrescentando um devaneio, se há 4 mil milhões para investir na TAP, não haverá 1/4 disto para salvar e dar um novo rumo ao SNS? A “empresa” responsável pela saúde de todos os portugueses não será mais importante? Será que me está a escapar algo ou os interesses estarão algo trocados?

 

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