Ota: Especialistas apelam ao «bom-senso» - TVI

Ota: Especialistas apelam ao «bom-senso»

Aeroporto OTA

Os especialistas em transportes e urbanismo José Manuel Viegas e Fernando Nunes da Silva apelaram esta segunda-feira à recuperação do «bom-senso» no processo de construção do novo aeroporto de Lisboa, defendendo o aprofundamento dos estudos de alternativas à Ota.

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«É preciso recuperar o bom-senso. Pretende-se apenas que o Governo aceite estudar brevemente hipóteses alternativas», disse José Manuel Viegas, professor catedrático em Transportes do departamento de Engenharia Civil do Instituto Superior Técnico.

Numa intervenção no colóquio «O novo aeroporto da Lisboa: na Ota ou noutro local», promovido pelo Instituto Francisco Sá Carneiro, José Manuel Viegas recuperou as críticas que têm surgido à decisão do Governo em avançar com a construção do novo aeroporto de Lisboa na Ota, a cerca de 50 quilómetros a norte da capital, apesar de reconhecer que essa não deve ser uma solução «completamente abandonada».

«Nunca disse que a Ota é uma solução completamente abandonada. É primeiro preciso ter uma base comparativa séria», ressalvou, insistindo na necessidade de aprofundar os estudos sobre as localizações alternativas no Poceirão e em Faias, na margem sul do Tejo.

«Sobre a Ota os estudos são muito mais aprofundados. É preciso aprofundar os estudos sobre o Poceirão e Faias», sublinhou.

Segundo este especialista em Transportes, estas duas localizações alternativas têm, para já, algumas vantagens em relação à Ota, como estarem localizadas a uma menor distância de Lisboa, em terrenos mais planos e fora da Rede Natural.

Além disso, acrescentou José Manuel Viegas, o Poceirão está localizado a cerca de dois quilómetros da linha de ferro e qualquer uma dessas duas localizações permitirá uma redução de custos superior a mil milhões de euros.

Pelo contrário, a Ota tem «problemas aeronáuticos sérios», uma capacidade de expansão limitada, custos muito mais elevados e piores acessibilidades.

Ainda antes de se debruçar sobre estas três alternativas, José Manuel Viegas fez uma retrospectiva do processo de decisão sobre a construção do novo aeroporto internacional de Lisboa, lembrando que só depois do Governo ter anunciado publicamente que iria avançar para a Ota é que se começaram a conhecer os relatórios técnicos sobre a matéria.

«Desde aí, têm-se vindo a descobrir mais problemas», referiu.

José Manuel Viegas fez ainda questão de sublinhar que os estudos que desde Novembro de 2005 estão a ser realizados para aferir das vantagens da construção do novo aeroporto no Poceirão ou em Faias «não se destinam a confrontar o Governo», mas apenas contribuir para «solução melhor».

Fernando Nunes da Silva, professor catedrático em Urbanismo e Transportes do departamento de Engenharia Civil e Arquitectura do Instituto Superior Técnico, recuperou o apelo deixado por José Manuel Viegas, alertando igualmente para a necessidade de «recuperar o bom-senso» e «parar para pensar».

«Foi um processo de decisão extremamente atabalhoado», exclamou, sublinhando a importância de analisar as questões técnicas em profundidade «antes de se tomar decisões extremamente complicadas e com impactos estruturantes».

Como argumento para reabrir o processo de decisão sobre qual a melhor alternativa de localização para construir o novo aeroporto internacional de Lisboa, Nunes da Silva apontou, entre outros aspectos, a alteração da lógica de ordenamento do território.

«Há novos dados em relação à Ota, que os estudos iniciais apenas afloravam», disse.

Antes das intervenções de José Manuel Viegas e Fernando Nunes da Silva, o bastonário da Ordem dos Engenheiros, Fernando Santo tinha também alertado para a necessidade de serem feitos mais estudos, ressalvando não ser nem contra nem a favor da Ota.

«Ainda há tempo para estudar outras soluções», salientou.
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