Promiscuidade entre Estado e empresas nunca foi tão visível - TVI

Promiscuidade entre Estado e empresas nunca foi tão visível

Semanário «Sol»

Lobo Xavier reconhece que situação «acompanha o país há muito tempo»

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O antigo dirigente e deputado do CDS António Lobo Xavier considerou esta quinta-feira que a promiscuidade entre o Estado e as empresas é uma constante na sociedade portuguesa, embora actualmente atinja contornos mais visíveis.

«Não é só deste poder político, porventura neste ciclo político notam-se as coisas e há mais casos conhecidos, mas infelizmente é algo que acompanha o país há muito tempo», sustentou, ao participar esta quinta-feira, em Coimbra, num almoço-debate da ACEGE - Associação de Gestores e Empresários Católicos.

Na sua perspectiva, «há muita falta de ética, há relações privilegiadas, há prestações de favores mútuos. Não é de agora. É algo que caracteriza o sistema português, com uma economia frágil, pouco desenvolvida e pouco concorrencial».

«Qual é o aspecto dessa protecção e de prestação de favores mútuos? É uma característica daqueles setores que não são abertos à concorrência, e que dependem do Estado como regulador ou como cliente. Quando trocam favores estão a proteger-se da concorrência, estão a agravar os preços para os consumidores, estão a evitar que entrem no mercado outros agentes mais dinâmicos e eficazes. Estão a causar um prejuízo grande a Portugal».

Para António Lobo Xavier, nunca esta questão atingiu tal visibilidade «porque o Estado nunca teve tanta necessidade de usar alavancas no meio empresarial», o que «é também um aspecto da evolução da sociedade portuguesa».

«É a pressão sobre os défices, um Estado amarrado sem capacidade para gastar, não podendo aumentar mais os impostos, tendo de respeitar as regras de Bruxelas, procurando articular os seus interesses com os das empresas privadas de forma não transparente».

No entendimento de Lobo Xavier, «o que há de errado é tentar aliciar as empresas privadas para as estratégias políticas de forma subreptícia, por debaixo da mesa e com contrapartidas que não são conhecidas nem fiscalizadas».

«Este problema não tem só que ver com a economia, tem que ver também com a própria democracia, e é por isso que é muito grave».

Na sua intervenção no almoço-debate, sobre o tema «A ética e os negócios», defendeu uma conciliação entre os valores da empresa, que são os do negócio e os do sucesso, com os pessoais, porque não é possível haver uma conduta ética na empresa sem uma liderança moral.
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