Primavera, dia 1: bifanas e sandes de pernil para uma torre de babel

Roger e Hannah vieram de Birmingham. De calções, havaianas e um leve casaco enfrentam a nortada do Parque da Cidade. «Isto para nós é o verdadeiro verão», dizem à reportagem da TVI24, em pleno crepúsculo.

A inevitável cerveja é bebida apressadamente, pois as The Breeders estão quase, quase a começar. Ele acompanha a Super Bock com uma sandes de pernil, ela contenta-se com um cachorro. «A comida aqui é fantástica. O que é que vocês portugueses põem nisto?»

A romaria às barraquinhas da Casa Guedes, da Conga, da Cufra ou da padaria Ribeiro, tudo negócios familiares e enraizados na cultura portuense, junta portugueses a australianos, suecos, espanhóis e ingleses.

É uma verdadeira torre de babel à procura da dose perfeita de calorias e colesterol. Nada melhor do que isto para suportar uma maratona musical, como nos dizem dois amigos suecos, Erik e Pieter, chegados ao Porto de Malmoe há três dias.

Dia 1: bem-vindo à liturgia negra do diabólico Nick Cave

«Tínhamos vindo o ano passado e ficámos doidos com o cenário. O Parque da Cidade é lindo e passamos os dias entre o centro histórico, a praia e os concertos. Estamos ansiosos por ver o Blur».

O quarteto comandado por Damon Albarn é, de resto, o mais enunciado nestas conversas informais. A esmagadora maioria dos visitantes anseia pelos acordes de «Parklife», «End of a Century» ou «The Universal», mas há exceções.

O casal João Melo e Sandra Ribeiro, algarvios de gema, preferem «Local Natives ou Grizzly Bear». «O mais importante é o convívio com pessoas de todo o mundo e sair da monotonia do nosso dia-a-dia. Isto é ótimo».

E é, de facto. Poucos ou nenhuns festivais têm estas características únicas. Os anfiteatros naturais do Parque da Cidade, o lago envolvente, os quatro palcos bem distribuídos, a oferta anormalmente interessante na restauração, a paz e o sossego possíveis entre concertos, só mesmo neste Primavera Sound.