Paredes de Coura: dançando na despedida

Música para os mais variados gostos foi o que não faltou no último dia do festival Paredes de Coura 2008. As hostilidades no palco principal foram iniciadas de forma tímida pelos Ra Ra Riot e pelas Au Revoir Simone, duas bandas de Nova Iorque que, apesar de serem pouco conhecidas em Portugal, ganharam um bom punhado de novos adeptos.

As três meninas que compõem as Au Revoir Simone já tinham estado em Portugal em Dezembro de 2007 e mostraram-se entusiasmadas em regressar ao nosso país. A electrónica de contornos indie juntou Erika, Annie e Heather, cada uma com o seu teclado e cada uma de vestido de Verão, naquele que foi o dia mais quente do festival.

Tributo valeu pena intenção

Incógnita para muitos era o anunciado «Tributo a Joy Division», marcado para as 21h00. Na conferência de imprensa de rescaldo da 16ª edição do Paredes de Coura foi apresentado o projecto liderado por Rodrigo Leão e Nuno Gonçalves (The Gift). O tributo de músicos portugueses à banda de Ian Curtis já tinha passado pelas discotecas Frágil (Lisboa) e Clinic (Alcobaça), juntando um grupo de amigos em torno de uma referência em comum.

Infelizmente, e apesar da parte instrumental bem conseguida, a tentativa de recriação da voz de Ian Curtis por parte dos dois vocalistas deixou muito a desejar. A ideia de celebrar êxitos dos Joy Division como «Love Will Tear Us Apart» com uma plateia tão vasta como a de um festival é de louvar, mas talvez tivesse funcionado melhor com um registo vocal diferente para fugir às comparações.

Biffy Clyro bipolares

O quarto dia de festival apresentou um decréscimo de público - muitos regressaram a casa durante o dia para trabalharem na segunda-feira - e isso notou-se durante o concerto dos escoceses Biffy Clyro' praticamente desconhecidos entre o público de Paredes de Coura, fora os fãs acérrimos colados às barreiras da frente do palco.

Os três rapazes de Ayrshire subiram ao palco de calças brancas bem justas e tronco nú, ignorando o frio que o cair da noite trouxe entretanto. O visual excêntrico dos Biffy Clyro cedo se tornou secundário, mal se ouviram os primeiros temas do alinhamento.

A bipolaridade musical do trio foi uma lufada de ar fresco e um abanão na apatia que começava a instalar-se entre os festivaleiros. O navegar entre os extremos - do calmo ao violento, do melódico ao descarregar puro de energia - não só fez as delícias do pessoal do mosh, mas também despertou curiosidade em muitos de rever a banda noutro espaço que não o de um festival.

Provavelmente foram poucos os que deram por isso, mas os Lemonheads de Evan Dando chegaram a correr a Paredes de Coura. Atrasada, a banda afinou os instrumentos à pressa já em palco e saiu prejudicada pela qualidade da mistura de som. Foi um entrar com o pé esquerdo num concerto que teve os seus pontos altos nas canções mais enérgicas, entre o grunge e o punk.

A faceta mais folk de Dando transpareceu quando enfrentou sozinho a plateia, apenas com a sua guitarra eléctrica, e passou de história em história durante sete temas. Na memória ficam ainda as piadas lançadas pelo líder dos Lemonheads. «Qual a parte mais difícil de andar de patins? É explicar aos teus pais que és gay» serviu para passar o tempo entre canções.

Final a dançar

Foi preciso chegar ao último nome do palco principal para finalmente reunir alguma unanimidade neste último dia de festival. Os Thievery Corporation foram o prato perfeito a servir para um final de festa em grande. Reggae, dança do ventre e português com sotaque brasileiro fizeram parte de um espectáculo que juntou vários milhares de pessoas em volta do palco, para mais uma vez provar a diversidade de gostos musicais dos visitantes do Paredes de Coura.

Com Rob Garza e Eric Hilton (o núcleo-duro do projecto) no comando, o público assistiu a um desfile de convidados durante uma viagem pelas músicas do mundo, sempre com uma atmosfera lounge como pano de fundo.