Era o nome mais aguardado do segundo dia do Vodafone Paredes de Coura e um dos cabeças de cartaz mais esperados desta edição do festival. Falamos, claro, dos New Order, que atuaram esta quinta-feira na praia fluvial do Taboão perante um recinto lotado. E o que aconteceu foi um momento de grande celebração, da música e da História, que proporcionou uma viagem no tempo e uma comunhão de gerações.
Há que começar este texto por dizê-lo: os anos passaram pelos New Order e a banda de Manchester não está na sua melhor forma. Claro que isto passa inevitavelmente pela saída do lendário baixista Peter Hook, mas não só. A voz de Bernard Sumner também acusa idade ou cansaço, ou um misto dos dois, e a energia do grupo não é a mesma de outros tempos.
Mas um concerto existe muito para além da atuação em si e ver ao vivo os New Order, uma das bandas mais aclamadas e influentes dos anos 80, que ainda hoje inspira jovens artistas e uma legião de fãs, é um momento histórico. Recordamos que, até aqui, a banda só tinha atuado uma vez em Portugal, em 2005. É, por isso, um momento histórico e um momento para celebrar a História, a da música, a dos New Order e a dos Joy Division - o grupo a partir do qual se formaram, após o suicídio de Ian Curtis.
E foi isto que aconteceu no festival minhoto esta quinta-feira. Fãs de há muitos anos juntaram-se a jovens que os começaram a ouvir há menos tempo e dançaram, vibraram e cantaram ao som de verdadeiros hinos como são "Blue Monday" ou "Bizarre Love Triangle", num espectáculo cheio de jogos de luzes, gráficos e imagens.
Mas foi com temas dos Joy Division que o público foi ao delírio. Logo no início ouviu-se "She's Lost Control" e "Transmission". O final foi apoteótico com "Atmosphere" e "Love Will Tear us Apart", que o festival cantou em uníssono, enquanto surgia a imagem gigante de Ian Curtis atrás da banda.
A aparentemente difícil tarefa de atuar depois de um momento como este coube aos lisboetas Capitão Fausto, que regressaram a Paredes de Coura para apresentar o novo disco, o quarto da carreira, "A Invenção do Dia Claro". Um álbum no qual o grupo investe mais nas canções pop e nas baladas com poemas românticos e onde encontramos influências do samba e da cultura brasileira - não tivesse o disco sido gravado em São Paulo.
E se é certo que muitos festivaleiros vieram apenas para ver New Order, também o é que, destes, grande parte acabou a ver Capitão Fausto. A banda, que entrou ao som de Vangelis e saiu com "Here Comes The Sun", dos Beatles, reuniu uma grande moldura humana, que se deixou contagiar pelas boas vibrações da pop daquele que é um dos grupos musicais mais relevantes do atual panorama nacional.
Ouviram-se as canções do último disco, como "Faço as Vontades" ou "Sempre Bem", mas também temas de outros álbuns como "Amanhã Tou Melhor", do disco "Capitão Fausto Têm os Dias Contados" ou "Teresa", do primeiro álbum "Gazela", quando a banda era menos pop e mais indie rock.
Muito antes, pela hora de jantar, a pop leve e fresca de Boy Pablo, um jovem artista norueguês que se tornou conhecido ao partilhar músicas e vídeos na Internet, teve direito a casa cheia no Vodafone Paredes de Coura, ainda que no palco secundário.
Um público em festa dançou e cantou ao som da música do artista, que se chama, na verdade Nicolas Pablo Munoz, e que lançou no ano passado o seu primeiro álbum, "Soy Pablo",
E as boas energias de Boy Pablo ainda contagiavam os festivaleiros quando os Car Seat Headrest subiram ao palco principal, já com a noite sobre a paisagem.
Mas os gritos eufóricos que se ouviam do outro lado do recinto não terão intimidado Will Toledo e companhia, que regressaram esta quinta-feira ao festival minhoto - estiveram cá há dois anos - para um concerto de puro indie rock.
Riffs de guitarra enérgicos e a voz de Toledo a ecoar no recinto, a dar corpo às letras instrospetivas, desenharam outro dos momentos deste segundo dia de festival.
O ar de Toledo até pode parecer frágil e juvenil, mas não há dúvidas de que o músico tem em si a genialidade e a garra de uma estrela rock.
Foi um daqueles concertos que evoluiu em crescendo: com o fim da atuação de Boy Pablo mais gente acabou por se juntar no palco principal e se, por um lado, a banda norte-americana atraiu a multidão, por outro, também a multidão alimentou a intensidade da atuação da banda. Os fãs cantaram músicas como "Drunk Drivers/Killer Whales" e "Sober to Death", na qual se ergueram no ar as luzes de muitos telemóveis.
Antes do indie rock dos Car Seat Headrest houve canções para fazer sonhar com os Alvvays, uma banda canadiana de Toronto, que se estreou, assim, em Portugal.
O grupo, liderado pela voz doce da vocalista, Molly Rankin, mistura elementos da indie pop, da dream pop e do shoegaze. E temas como "Dreams Tonite", "Not My Baby” ou “Archie, Marry Me” encantaram os festivaleiros, sobretudo os mais jovens que se reuniram bem lá na frente.
O dia, muito soalheiro, perfeito para mergulhos no rio Coura - de resto, as margens da praia fluvial estiveram a abarrotar de festivaleiros durante a tarde - começou no palco principal com os Khruangbin. O nome significa “avião” em tailandês, mas este trio nasceu em Burton, no Texas.
Perante uma multidão iluminada pelo sol dourado, a banda proporcionou uma viagem instrumental, que percorreu várias sonoridades desde o rock psicadélico à soul e ao funk.
O festival Vodafone Paredes de Coura continua esta sexta-feira com nomes como Father John Misty, Spiritualized e Deerhunter em destaque.