"A Ómicron teve um tremendo sucesso, na perspetiva do vírus, mas acaba por ser vítima disso" - TVI

"A Ómicron teve um tremendo sucesso, na perspetiva do vírus, mas acaba por ser vítima disso"

Covid-19: uma pandemia que parou o mundo

O comportamento do coronavírus SARS-CoV-2 tem surpreendido os especialistas. À CNN Portugal, Manuel Carmo Gomes, um dos autores do estudo publicado na revista Lancet que concluiu que quem teve covid e foi vacinado tem maior protecção, avisa que o vírus não desapareceu e diz que há o perigo de novas variantes que provoquem doença grave. A mais recente (XBB.1.5) nasceu nos EUA e já chegou à Europa, incluindo Portugal

Manuel Carmo Gomes, epidemiologista e um dos colíderes do estudo "Vacina e infeção prévia por SARS-CoV-2 conferem proteção duradoura contra a Omicron BA.5", agora publicado na Lancet Infectious Diseases, revelou à TVI/CNN Portugal de que forma o coronavírus SARS-CoV-2 tem surpreendido a comunidade científica e alerta que o perigo de surgir uma variante mais perigosa é real. Além disso, explica o impacto da variante Ómicron: "A Ómicron teve um tremendo sucesso, na perspetiva do vírus, mas acaba por ser vítima disso".

Apesar de atualmente, a pandemia parecer estar controlada, Manuel Carmo Gomes avisa: "Não podemos ser arrogantes". "O virus não tem parado de nos trazer surpresas e tem estado a evoluir a uma velocidade, especialmente ao longo  de 2022, que é uma surpresa completa para um coronavírus. Os coronavírus não costumam evoluir com esta rapidez", explica. Esta rapidez é algo totalmente novo.

"O vírus continua. Ele não desistiu de nós. Continua a evoluir". E é por isso, explica o epidemiologista, que o trabalho tem de continuar: "O nosso trabalho tem que ser continuar a acompanhá-lo, porque nós não temos a certeza que não possa ainda aparecer uma versão do vírus, que além de ser muito transmissível e fugir aos nossos anticorpos, cause doença mais grave. Vai ser um trabalho para os próximos anos".

A Ómicron surgiu no final de 2021 e causou uma onda de casos em todo o mundo nessa altura e nos primeiros meses de 2022. Já havia registo de variantes, mas esta era diferente. "A Ómicron é um grande passo evolutivo do vírus. Conseguiu fazer uma mudança que faz com que os nossos corpos não o consigam reconhecer". O que explica o sucesso que alcançou "em janeiro e fevereiro. Parecia um vírus novo. Da perpestiva do vírus é como se nós fossemos uma população completamente virgem quando a Ómicron chega. E conseguiu infetar quase toda a gente".

E como evoluiu o vírus?

Por enquanto, a Ómicron pode estar a ser vítima do seu próprio sucesso inicial. "A Ómicron teve um tremendo sucesso, na perspetiva do vírus, mas acaba por ser vítima disso. Porque o nosso sistema imunitário, que já estava vacinado, em combinação com essa infeção pela BA1 E a BA2 tornou-se muito mais capaz de reconhecer todas as formas do vírus", explica Carmo Gomes.

Tendo em conta todas estas características do SARS Cov 2, é preciso ter cautela, alerta o especialista. "Sabemos que neste momento há uma nova subvariante do vírus, que é a XBB.1.5 que nos vai invadir. Nos Estados Unidos tem tido um sucesso tremendo. Já está na Europa, também já está na China e, provavelmente, nós vamos ter uma onda de XBB.1.5", revela.

Apesar de uma nova variante se poder tornar dominante em pouco tempo, Manuel Carmo Gomes confessa estar "otimista". "É de esperar que esta nova versão do vírus dê origem a uma nova subida de casos, mas pelos dados dos Estados Unidos estou otimista. Em primeiro lugar, a onda não vai ser muito grande, nada que se compare à BA5 de maio/junho. Nos Estados Unidos houve uma subida de casos, mas a subida das hospitalizações foi proporcional. Não parece que seja mais grave, mais patogénica e dê origem a doença mais severa", acrescenta.

Segundo o  epidemiologista, " partir da Ómicron as variantes são todas muito contagiosas". No entanto,diz, há que distinguir "dois aspetos. "Uma coisa é a transmissibilidade do vírus, outra coisa é a capacidade que ele tem em fugir aos anticorpos", explica, continuando: "A transmissibilidade do vírus tem a ver com a quantidade de vírus com que ficamos no nosso trato respiratório superior - nariz, boca, nasofaringe - e a quantidade de vírus que deitamos para o ar nos nossos piparotes e que as outras pessoas podem inalar. Outra coisa é a capacidade que o vírus tem em fugir aos nossos anticorpos, para se multiplicar".

Carmo Gomes adianta ainda que "antes da Ómicron o vírus evoluiu sempre no sentido de aumentar a transmissibilidade". Isto é, "quando as pessoas eram infetadas, ao longo do ano de 2020/2021, tinha cada vez mais quantidade de vírus nas fossas nasais ou na boca, etc. Portanto, ele era muito transmissível. A partir da Ómicron a transmissibilidade não aumentou".

A evolução desta variante agora é no sentido de fugir "aos nossos anticorpos". A evolução é bastante diferente da evolução que as variantes anteriores tiveram. "Começa a especializar-se, não em ser mais transmissível, mas em fugir aos nossos anticorpos". 

Apesar das constantes mutações, a proteção contra o vírus dada pelas vacinas e por infeções anteriores ainda é elevada. Principalmente contra doença severa. 

Dia 7 de janeiro faz três anos que as autoridades chinesas assumiram que tinham identificado um novo tipo de coronavírus, nunca antes detetado em seres humanos. Desde dezembro de 2019 que já se falava de uma pneumonia misteriosa na China, para a qual não encontravam explicação.

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