O ministro do Ambiente lamentou este sábado o aumento da utilização de materiais descartáveis devido à pandemia de covid-19, mas considerou que é o único aspeto em que a atual crise prejudica o que estava a ser feito a nível ambiental.
O descartável voltou a invadir as nossas vidas”, apontou o ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes, que participava, esta tarde, num debate no âmbito do Visão Fest Verde, juntamente com o deputado do Bloco de Esquerda (BE) José Manuel Pureza e o advogado e antigo secretário de Estado do Ambiente José Eduardo Martins.
Questionado sobre se considera que a crise provocada pela pandemia de covid-19 vem prejudicar o que estava a ser feito em termos de políticas ambientais, o governante foi perentório na resposta: “não, antes pelo contrário, é preciso acelerar políticas que vinham de trás. […] A exceção é o ‘reabuso’ do descartável”.
Segundo Matos Fernandes, assistimos neste momento - em crise económica provocada por uma pandemia - a uma “disponibilidade maior da União Europeia” para que os investimentos no ambiente e sustentabilidade sejam feitos.
O ministro contrapôs a disponibilidade atual para investir com a resposta à crise de 2009, que considerou de “restrição ao investimento” e “aposta cega na austeridade”.
Havia um pensamento claramente liberal que campeava na Europa, e tudo o que tinha a ver com políticas ambientais foi completamente descartado”, sublinhou.
Por seu turno, José Eduardo Martins defendeu ser ainda “cedo para perceber qual o verdadeiro impacto” da pandemia e apontou que, apesar de Portugal estar inserido num bloco que evoluiu politicamente para fazer da defesa do ambiente uma prioridade, é necessário começar a “pagar o valor justo” pelos serviços ambientais.
Temos um custo de reciclagem demasiado baixo, temos uma resistência a pagar a reciclagem […] e, com o ‘dumping’ que deixámos de fazer na Ásia, descobrimos que o mundo está cheio de plástico”, afirmou o também militante do Partido Social Democrata (PSD).
Já José Manuel Pureza destacou as áreas dos transportes, território, energia e oceano como as que mais necessitam de atenção atualmente, em termos de políticas ambientais.
Acho que a pandemia podia ser um bom motivo para uma alteração da política de transportes, em termos de maior volume do transporte coletivo, maior eletrificação do transporte coletivo, plano ferroviário nacional, entre outros”, defendeu o deputado do BE.
O ministro do Ambiente ressalvou que não se consegue mudar a sociedade “numa noite, ou numa manhã”, em termos de sustentabilidade ambiental, daí que a transição energética tenha de ser feita em democracia e com consenso.
Eu não quero ir viver para uma gruta como o menino Jesus”, disse o ministro, recorrendo ao humor, afirmando, no entanto, estar “consumado o divórcio para aqueles que acreditavam que, para a economia crescer, tinha de poluir mais”.
No final do debate, os três participantes demonstraram um otimismo refreado em relação às metas ambientais para os próximos anos, para responder de forma eficaz ao estado de emergência climática.
É muito difícil ficar otimista olhando para o grau de pobreza de alguns países. Essa é uma preocupação muito grande. […] Nós só vamos ganhar esta luta pelo exemplo”, considerou Matos Fernandes, acrescentando, porém, estar otimista em relação ao que vai acontecer em Portugal e na Europa, sobretudo se a lei do clima for aprovada ainda durante a presidência alemã da União Europeia (que termina no final do ano).
Também o deputado José Manuel Pureza ressalvou a necessidade de “compromisso, determinação e empenho” com os objetivos climáticos, mas “com a noção de que o caminho é dificílimo”.
Há uma coisa que me puxa para o otimismo, mas que não acho que seja suficiente, que é a exigência das gerações mais novas. Elas criam uma barreira aos políticos, que é importante. Tudo o resto me deixa pessimista”, admitiu José Eduardo Martins.