PSD e CDS queriam suspender TGV. Esquerda não deixou - TVI

PSD e CDS queriam suspender TGV. Esquerda não deixou

Assembleia da República

Debate incendiou os ânimos no Parlamento e dividiu o plenário. PSD e CDS acusam PCP e BE de hipocrisia política. PS recorda gastos com submarinos

O debate sobre o TGV incendiou esta sexta-feira o Parlamento durante a discussão das duas iniciativas propostas (de CDS e PSD) que pedem a suspensão da obra. Houve acusações de hipocrisia política, os submarinos foram trazidos à baila e o PS propôs mesmo uma visita às obras do TGV que decorrem em Espanha.

«Esta é a última oportunidade que o Governo tem para corrigir um erro», afirmaram PSD e CDS ao pedir a suspensão do projecto lembrando o momento de crise que o país atravessa e nomeadamente o esforço que está a ser pedido aos portugueses através do aumento de impostos e a situação de endividamento do país.

«Na próxima terça-feira começam a aumentar impostos, faz algum sentido, num momento em que se pede aos portugueses um esforço, assinar o contrato do TGV e o esforço que isso implica?», questionou Paulo Portas, lembrando as grandes obras que o projecto acarreta também, como a terceira travessia rodoviária do Tejo e o novo aeroporto.

A dificuldade de acesso ao crédito por parte das famílias e das pequenas e médias empresas também foi uma preocupação dos dois partidos. «PMEs têm enormes dificuldades em conseguir crédito junto da banca. Fazer o TGV e as obras que implica vai esgotar o crédito disponível», afirmou Paulo Portas, de imediato seguido pelo deputado social-democrata Jorge Costa: «Está a impedir que as empresas se possam financiar para a sua actividade».

A resposta foi dada pelo Secretário de Estado das Obras Públicas que garantiu que este projecto implica «centenas de subcontratos com pequenas e muito pequenas empresas nacionais». «Este projecto apoia as PMEs», adiantou, acusando de «ignorância» quem diz o contrário.

O responsável lembrou ainda os postos de trabalho que o projecto criará e os fundos europeus que seriam perdidos caso fosse suspenso.

Este foi também o argumento de PCP e BE para defender o projecto e rejeitar o pedido de suspensão apresentado no Parlamento. «Perante a crise económica, a estagnação e o desemprego, a solução não é cortar no investimento. Renovação da rede rodoviária nacional», afirmou o deputado do PCP Bruno Dias.

O Bloco Esquerda defendeu também que a «linha de alta velocidade é uma opção estratégica porque liga Portugal à linha de alta velocidade europeia, cria emprego e permite a modernização das infra-estruturas». Lamenta apenas que seja realizado através de parecerias publico-privadas e aponta o exemplo espanhol, a cargo de uma empresa pública.

«Ligação de nenhures a lado nenhum»

«Em 2014, Portugal poderá encontrar-se na insólita situação de ter uma linha Poceirão-Caia, sem ligação a Lisboa e sem ligação a Espanha, apesar dos elevados encargos», afirmou o deputado do PSD Jorge Costa. «Estranho que o BE e o PCP, que criticam as parecerias publico-privadas, venham agora servir de muleta ao Governo num projecto que não é mais do que uma gigante pareceria publico-privada, ligando nenhures a lado nenhum», afirmou depois.

A resposta do lado do PS, pela voz de Ana Paula Vitorino, antiga secretária de Estado dos Transportes, que acusou PSD e CDS de uma iniciativa «demagógica, reaccionária» e de serem «velho dos Restelo, defensores de um Portugal orgulhosamente só», isolado da Europa.

Sobre o facto de o TGV não ligar a lado nenhum do lado espanhol, Ana Paula Vitorino propõe uma deslocação às obras do TGV do lado espanhol para comprovar que o projecto está mesmo em marcha do lado de lá da fronteira.

«E quanto à crise, isto não são submarinos e respectivos encargos», afirmou.

«Quer falar de submarinos? Sabe quantos o PS queria? Quatro. Ainda bem que alguém suspendeu», respondeu de imediato o deputado do CDS Pedro Mota Soares.

O deputado recordou que o TGV também está a ser reavaliado em Espanha. «Também acha que o Governo espanhol é reaccionário?», questionou, dirigindo-se a Ana Paula Vitorino.
Continue a ler esta notícia