Garcia Pereira: há combates que não acabam nunca - TVI

Garcia Pereira: há combates que não acabam nunca

O tvi24.pt acompanhou o PCTP/MRPP numa acção de campanha por uma feira em Odivelas e percebeu que a luta continua quando certos rostos vão na rua

Seguir o PCTP/MRPP numa acção de campanha não significa apenas seguir o eterno Garcia Pereira na eterna luta por um lugar no parlamento: significa acompanhar um nome popular e um rosto familiar, que sorri muito mais vezes do que se imagina. «Deixe-me só cumprimentá-lo», interrompe uma senhora enquanto lhe estica a mão. «Boa sorte e tudo de bom para o senhor.»

Garcia Pereira sorri, outra e outra vez. «Devo dizer-lhe que o apoio que tenho sentido é diferente de uma simpatia mais passiva que senti em anteriores campanhas eleitorais», atira em conversa com o tvi24.pt. «Nestas eleições a situação é completamente diferente. Está ao nosso alcance eleger deputados e com o PCTP/MRPP no parlamento aquela assembleia nunca mais será igual.»

O rosto mais conhecido do partido continua a falar em «luta» e «inimigos do povo». Há mais de quatro décadas que o MRPP se mantém fiel a um ideário de esquerda. «A faculdade de direito era um campo de luta duro, é assim que se forja e tempera o aço», lembra sobre os primeiros tempos de militância clandestina. «Se não tivesse tido contacto com o MRPP, não seria o homem que sou.»

Por detrás da têmpera de Garcia Pereira está uma outra notícia. «O assassinato do camarada Ribeiro Santos por um agente da PIDE na tarde de 12 de Outubro de 1972», conta, recordando a morte do estudante de económicas feito mártir do MRPP durante uma manifestação e as lutas estudantis que fazem o partido confundir-se com a história da luta pela democracia. «Foi o factor determinante.»

A revolução que Garcia Pereira sente mais próxima

Na Feira do Silvado, em Odivelas, a curta caravana procura a população. Dois jovens tocam tambor, mais dois agitam bandeiras. À entrada um carro debita slogans de campanha. «Não temos de pagar por uma dívida que não é nossa», ouve-se. Garcia Pereira diz que é preciso combater «os vínculos precários», «as condições laborais inimagináveis» e «o flagelo social que é o desemprego».

Meia-dúzia de acompanhantes tentam entregar panfletos à gente que passa. Muitos recusam. Quando é Garcia Pereira que estica a mão, geralmente aceitam. «Sabe, estas feiras são um excelente barómetro», refere. «As pessoas vêm ter comigo, queixam-se que não há dinheiro. Se reparar, só há gente a consumir na parte da alimentação. As barracas estão praticamente vazias.»

A solução está onde sempre esteve: no proletariado. «É preciso um programa de desenvolvimento da economia nacional, através de investimentos criteriosos na área da pesca, da agricultura, da indústria, da tecnologia. Temos de assentar o desenvolvimento nas nossas vantagens competitivas.» Tantos anos depois, o discurso pode nem sempre passar, a popularidade, essa, passa mesmo.

As pessoas falam-lhe, abraçam-no como se o conhecessem desde sempre. «Aparecer uma força política a dizer que a dívida não tem de ser paga porque não foi contraída pelo povo, nem a favor do povo, está a colocar os partidos do poder em pânico.» Em 2009 o PCTP/MRPP ultrapassou pela primeira vez a barreira dos 50 mil votos. Garcia Pereira diz sentir que a revolução está mais próxima.

O regresso à ideia dos murais de 70

Por isso também torna os dias longos. Esta segunda-feira, por exemplo, começou de manhã na feira de Odivelas e só termina numa reunião com os Precários Inflexíveis: um grupo de jovens que ganhou fama ao pintar um mural contra o FMI. «Os jovens estão de pé e estão a querer assumir o papel que a juventude sempre teve na primeira linha de combate», garante. «É um sinal encorajador.»

À memória este encontro traz obviamente os murais com a assinatura do MRPP que nos anos 70 pintavam as ruas de Portugal. Será um piscar de olho à história? «Demonstra a necessidade que há de encontrar formas de contacto com o povo e demonstra o papel que a juventude está a assumir na mudança da sociedade.» Hoje, como sempre, Garcia Pereira acredita na revolução popular.
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