«Eu lutei com todas as minhas forças para não pedirmos ajuda» - TVI

«Eu lutei com todas as minhas forças para não pedirmos ajuda»

José Sócrates

José Sócrates diz que muitos baixaram os braços, mas que lutou até ao fim, e lembra que muitos clamavam pela vinda do FMI

O ex-primeiro-ministro afirmou que lutou até ao fim para impedir a vinda da troika para Portugal e lamentou que «muitas instituições» tenha «baixado os braços». José Sócrates diz que deitou a «toalha ao chão» num almoço e acusa o atual executivo de nunca ter aplicado o memorando original e de em vez disso ter aplicado o «dobro da austeridade».

«Eu sempre me opus ao pedido de ajuda internacional. Eu lutei com todas as minhas forças para não pedirmos ajuda. Fui obrigado a fazê-lo», disse, negando que tenha sido obrigado pelo ministro das Finanças, considerando que as declarações de Teixeira dos Santos têm sido «descontextualizadas».

«O tempo que passamos entre 2008 e 2010 passamos tempos muito duros, o ministro das Finanças foi um dos que me acompanhou em momentos críticos, em que fizemos tudo para proteger o país da ajuda externa, nós construímos a solução do PEC 4. Foi nesse momento a única vez em que um partido, do arco constitucional, fiel ao ideal europeu, deitou fora uma solução que a Europa tinha aprovado, para provocar uma crise política para nos conduzir à ajuda externa. Este é o ponto essencial. A ajuda externa resulta do chumbo do PEC», sublinhou, insistindo que este é o segundo embuste que é atualmente vinculado.

«Hoje eu olho para trás e vejo que muitas das instituições baixaram os braços, enquanto eu, continuava a luta», afirma, lembrando de imediato o «clamor» que existia na oposição pela ajuda externa, que defendia não existir nenhum problema em governar com a ajuda externa. «Até poder, defendi que não, porque sabia as consequências que vinham», justifica.

Sobre o momento em que decidiu, o ex-primeiro-ministro declarou que foi o almoço de seis de abril que decidiu e assumiu que não «gostou» das declarações do seu ministro das Finanças. «É sabido que eu não gostei que o ministro das Finanças fizesse aquela declaração. Mas nesse almoço, desse dia, eu já tinha tomado a decisão, porque reconheci que a minha luta tinha chegado ao fim, que já não conseguia», disse.

Sócrates invocou mais uma vez o argumento do chumbo do PEC 4, para defender que apesar de não existirem «certezas» sobre o seu sucesso, se o país não teria tido o «dever moral de tentar?».

Sobre a atual situação do país, Sócrates invoca aquele que chama de 3º embuste, ou seja, o facto do Governo não estar a aplicar o memorando assinado pelo PS, mas sim o dobro da austeridade.

«O que o governo fez nestes dois anos foi aplicar o dobro da austeridade que estava no memorando inicial. O Governo fez já sete alterações ao memorando inicial», disse, justificando que a posição recentemente assumida pelo PSD de que o memorando inicial estava mal desenhado é «uma desculpa de mau pagador». «Como é que eles podem dizer que o memorando estava mal desenhado se nunca o aplicaram?», questiona.

Sócrates lembra que no documento inicial não estavam os cortes aplicados por Passos Coelho, nomeadamente, o corte nos subsidio de férias, o aumento do IVA e «o aumento brutal de impostos».

«A decisão de ir além da troika foi uma decisão do Governo», destaca.
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