Bancos ajustaram-se à crise mas vão «desacelerar» este ano - TVI

Bancos ajustaram-se à crise mas vão «desacelerar» este ano

  • Rui Pedro Vieira
  • 19 mai 2009, 16:22
Despedimentos na banca

Relatório diz que instituições financeiras não apresentam riscos de maior mas vão ter de lidar com mais incumprimento

Os bancos portugueses estão mais frágeis, mas têm sabido acomodar o impacto da actual crise financeira. Quem o diz é o Banco de Portugal (BdP) que, no seu Relatório de Estabilidade Financeira 2008, traça o diagnóstico do sector e refere que já se notam alterações profundas nas formas de financiamento.

«Para 2009, é de esperar uma sensível desaceleração da actividade bancária proveniente do abrandamento do crédito, depois do forte crescimento registado em 2008, resultado, em parte, da actividade internacional o que, conjugado com uma maior materialização do risco de crédito, terá repercussões negativas para a rendibilidade da actividade bancária», refere o mesmo documento.

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A estes factores acrescem a incerteza sobre a evolução dos mercados de activos financeiros e dos mercados da dívida por grosso, não obstante «os desenvolvimentos mais favoráveis nos primeiros meses de 2009, que constituem um sinal de que a aversão extrema ao risco registada anteriormente se estará a reduzir».

Apesar da carteira de activos dos bancos não se encontrarem expostas materialmente aos agentes «tóxicos» que geraram esta crise, o BdP sublinha que se «verificaram perdas significativas da carteira de títulos, decorrentes da transmissão das perturbações do mercado da dívida aos mercados accionistas».

Os efeitos da maior instabilidade do sector estão também espelhados na quebra dos lucros registados no sistema bancário em 2008 face ao ano anterior: uma descida para perto de metade. Segundo o mesmo relatório, o sistema teve um resultado líquido de 1.795 milhões de euros no ano passado face aos 3.215 milhões de euros de 2007.

Medidas de apoio são importantes

Além de estarem a privilegiar os recursos obtidos junto de clientes e em menor grau dos bancos centrais, os bancos estão a reagir à crise através de vendas de activos, estreitando o foco da sua actividade e reforçando o capital através da emissão em mercado primário. «Todavia, a turbulência nos mercados financeiros é uma condicionante da concretização destes aumentos», diz a instituição.

No actual enquadramento, o Banco de Portugal conclui que um dos principais desafios para o sistema financeiro prende-se com o «impacto negativo da profunda deterioração das perspectivas sobre a actividade económica, que se deverão traduzir numa maior materialização do risco de crédito». Em consequências, as instituições terão de enfrentar um aumento dos rácios de crédito de incumprimento das famílias e das empresas. Algo que «gerará pressões sobre a rendibilidade e solvabilidade do sistema bancário português», lê-se no mesmo documento.

O BdP sublinha igualmente que as medidas de apoio ao sistema financeiro e à economia são importantes para restabelecer o equilíbrio.
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