Declarações do ministro da Saúde são «injustas e infelizes» - TVI

Declarações do ministro da Saúde são «injustas e infelizes»

ministro Correia de Campos

O Bastonário da Ordem dos Médicos considerou hoje «injustas e infelizes» as declarações do ministro da Saúde quando diz que há um elevado número de clínicos nos hospitais, alertando que não são estes que fazem as leis.

Em declarações à Agência «Lusa», Pedro Nunes disse não ter sido justo da parte do governante acusar os médicos de situações para as quais não contribuíram.

Numa entrevista à estação de televisão SIC Notícias na quarta-feira à noite, o ministro da Saúde, António Correia de Campos, considerou uma «vergonha nacional» o elevado número de médicos em alguns hospitais e deu como exemplo os 59 oftalmologistas que trabalham no Hospital dos Capuchos, em Lisboa.

«Há 59 médicos oftalmologistas no Hospital dos Capuchos e, no entanto, se quiser uma consulta não consegue. Então isto não são médicos a mais? Isto é uma vergonha nacional», disse o ministro.

O Bastonário da Ordem dos Médicos classificou de «injustas» e «infelizes» estas declarações do ministro, afirmando que se há 59 médicos naquele hospital é porque alguém os contratou.

«Quase dava vontade de dizer que se houve incompetência não foi dos médicos. Eles só concorreram às vagas que foram abertas por alguém. Se eu estou no Hospital Egas Moniz é porque havia vagas», disse.

Pedro Nunes questiona qual dos antecessores do actual ministro da Saúde é que publicou o quadro do hospital, uma vez que os médicos apenas concorreram a vagas abertas pelo ministério.

«Se o ministro diz que é um escândalo então que assuma a responsabilidade dele e dos outros», disse.

Correia de Campos disse ainda na entrevista que não é fácil resolver a situação porque existem «carapaças jurídicas» que impedem a tutela e as administrações dos hospitais de acabar com o problema.

«Há uma carapaça jurídica que impede a administração e o Governo de actuar directamente nesta matéria e que é alimentada pelos movimentos sindicais, pelos profissionais (do sector) e pelos interesses corporativos», afirmou o ministro.

O bastonário da Ordem dos Médicos responde indicando que até agora nenhum médico fez qualquer decreto-lei.

«Não atire responsabilidade para cima dos outros. Os médicos não têm de pagar por incompetências alheias. Os médicos não podem ser acusados pela contratação de profissionais nem por leis que não fizeram», disse.

As declarações do ministro, adiantou, acaba por gerar um conflito com os médicos e «se o Ministério da Saúde quer fazer reformas, vai precisar de tranquilidade com a classe».

Segundo Pedro Nunes, o Ministério da Saúde sabe que tem da parte dos médicos, da ordem e dos sindicatos, posições de grande vontade de colaborar.

«Nós, mais do que ninguém, temos consciência da situação nos hospitais. Todos os dias assistimos doentes que podiam ser melhor tratados. Somos os primeiros a querer mudar o sistema e isso não se faz com acusações mútuas. Espero que tenha sido um desabafo», disse.
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