Défice português em risco com novas regras do BCE - TVI

Défice português em risco com novas regras do BCE

Trichet

O Banco Central Europeu vai aumentar fortemente a pressão sobre Portugal, Itália, Grécia e outros países da Zona Euro, ameaçando recusar-se a aceitar a sua dívida soberana como colateral se o rating dos seus créditos cair, o que faria estragos irreversíveis nos respectivos défices, segundo analistas contactados pela Agência Financeira.

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Numa tentativa de alertar os países para as consequências da elevada despesa, e para a própria instituição poder criar alguma homogeneidade nas operações financeiras que leva a cabo, o banco anunciou que apenas aceitará como colateral nas suas actividades de mercados financeiros obrigações com ratings iguais ou superiores a A-, de uma ou mais das principais agências de rating.

O BCE emite uma lista de securities que aceita como colateral quando fornece liquidez nas suas operações regulares de refinanciamento e actualmente não discrimina entre as dívidas de diferentes países da Zona Euro apesar da lista não incluir activos com rating abaixo de A-, situação essa que o BCE quer alterar.

Todos os Governos da Zona Euro apresentam, actualmente, nas respectivas dívidas, ratings atribuídos pela Standard & Poor's (S&P) acima de A-. A Grécia tem um rating A, o mais baixo dos Doze, sendo que Portugal, a par com a Itália, tem um rating de AA- e a Bélgica se contra em AA+. Os restantes têm um rating de AAA.

Uma recusa do BCE em aceitar a dívida de um Estado significaria um forte golpe nas políticas do respectivo Governo, e tornaria as obrigações desse Estado muito mais difíceis de vender. No caso português, «se por algum acaso isso acontecer, o Governo português vai ter muitas dificuldades em vender a sua dívida ou teria de pagar um prémio maior», refere Trevor Cullingam, analista de crédito da S&P, contactado pela Agência Financeira.

Contudo, as previsões da casa de investimento são optimistas. O responsável diz que «este não é o caso de Portugal, já que está três notas acima do A-, para além de que achamos que a situação vai melhorar». No entanto, se isso acontecesse, Portugal iria «achar muito difícil financiar futuros défices fiscais», acrescentou Trevor Cullingam.

Um outro analista internacional, que prefere o anonimato, refere como exemplo o que se passou esta semana com a colocação de 3 mil milhões de euros em obrigações nacionais a cinco anos a que o Estado português teve de aumentar o valor do prémio. «Qualquer alteração no valor do prémio interfere nas contas da República. O mais provável é que Portugal nem veja o seu rating da dívida alterado, mas o mercado das obrigações usa esta especulação para inflacionar o valor dos prémios, o que prejudica, inevitavelmente, as colocações».

«Realmente em perigo está a Grécia, já que Portugal, a Itália e a Bélgica ainda têm alguma margem de manobra», referiu o mesmo analista. Contudo, «o nosso Outlook para Portugal é estável».
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