A Polícia Judiciária colocou esta quinta-feira de manhã em curso uma operação de buscas no processo de favorecimento às duas crianças gémeas luso-brasileiras com um tratamento de 4 milhões de euros para atrofia muscular espinhal à base de Zolgensma, o medicamento mais caro do mundo que foi administrado às menores no Hospital de Santa Maria na sequência de sucessivas pressões do filho do Presidente da República. Ao que a TVI e a CNN Portugal apuraram, os principais alvos das buscas são o Ministério da Saúde e o Hospital de Santa Maria.
Também a Secretaria de Estado da Saúde é visada porque, recorde-se, um dos principais suspeitos de crimes como tráfico de influência ou abuso de poder é o ex-secretário de Estado Lacerda Sales, recetor das cunhas diretas de Nuno Rebelo de Sousa, amigo dos pais das crianças - tendo o governante alegadamente movido influências para o tratamento. Lacerda Sales foi constituído arguido.
Ao que a TVI e a CNN Portugal apuraram, estão a ser efetuadas cerca de uma dezena de buscas ao ministério da Saúde, à secretaria de Estado, ao hospital de Santa Maria e ao Instituto da Segurança Social, que contam com 50 inspetores da PJ, procuradores do Ministério Público e juízes de instrução.
O diretor clínico do Hospital de Santa Maria, Luís Pinheiro, também está a ser alvo de buscas.
Em causa, num caso que nasceu de uma investigação jornalística da TVI, está um processo conduzido pelo DIAP de Lisboa em articulação com a Unidade de Combate à Corrupção da PJ.
O Ministério da Saúde era à data dos factos liderado por Marta Temido, hoje candidata pelo PS e cabeça de lista para as eleições de domingo para o Parlamento Europeu.
O palácio de Belém, onde o caso nasceu por a primeira iniciativa de Nuno Rebelo de Sousa ter sido de mover influências junto do pai, o Presidente Marcelo, fica, para já, de fora da primeira operação levada a cabo na investigação.
Ao final da manhã, a Polícia Judiciária emitiu um comunicado sobre a operação, que pode ler abaixo na íntegra.
"A Polícia Judiciária (PJ) realizou, hoje, uma operação policial, na área da saúde, visando o cumprimento de 11 mandados de busca, a fim de consolidar a investigação em curso à prática de crimes de prevaricação, abuso de poderes, tráfico de influência, abuso de poder e burla qualificada.
As buscas, realizadas pela Unidade Nacional de Combate à Corrupção da PJ, no âmbito de um inquérito dirigido pelo DIAP Regional de Lisboa, ocorreram na Área Metropolitana de Lisboa.
Com a realização desta operação, procura-se a recolha de equipamentos de telecomunicações, informáticos, prova de natureza documental, correio eletrónico, elementos que serão submetidos a exames e perícias, tendentes ao cabal esclarecimento dos factos.
Na operação participaram cerca de 40 inspetores da UNCC e peritos da Unidade de Perícia Tecnológica e Informática da Polícia Judiciária, além de diversos magistrados do Ministério Público e magistrados judiciais".