Cirurgias: só para ortopedia e oftalmologia estão mais de 34 mil portugueses à espera em apenas 10 hospitais. Veja as listas - TVI

Cirurgias: só para ortopedia e oftalmologia estão mais de 34 mil portugueses à espera em apenas 10 hospitais. Veja as listas

No Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa, uma cirurgia na especialidade de ortopedia pode demorar 413 dias - e há 934 pessoas à espera. No Hospital de Faro, uma cirurgia oftalmológica tem um tempo de espera de 381 dias - e a lista conta com 1.264 pessoas. Estes são apenas dois exemplos de duas especialidades que lutam por dar vazão aos pacientes

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Só nos 10 hospitais e centros hospitalares com mais pessoas em lista de espera para cirurgia, todos eles acima das cinco mil cada, há mais de 18 mil pacientes à espera de uma cirurgia ortopédica, segundo os dados apresentados pelo Serviço Nacional de Saúde no site que dá conta dos tempos médios de espera para cirurgia. No que diz respeito à cirurgia oftalmológica, são mais de 16 mil os que aguardam nestas que são as unidades hospitalares com mais utentes inscritos para cirurgias.

Estas são as duas especialidades que mais vezes constam nestas instituições de saúde. Para Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos, são vários os fatores em jogo na hora de analisar o porquê de listas de espera tão grandes, mas um deles deve-se à falta e perda de “capital humano”, sobretudo em especialidades como otorrinolaringologia, que está presente por cinco vezes na lista dos 25 maiores tempos de espera para cirurgia

No último concurso de medicina geral e familiar, metade das vagas ficou por ocupar. Nas últimas vagas de otorrinolaringologia, pediatria, oftalmologia, ficou uma percentagem significativa por ocupar”, explica o bastonário.

Quando questionado sobre a possibilidade de haver uma maior e mais célere sinergia entre hospitais públicos para fazer face a listas de espera, mesmo entre certas especialidades, Jorge Roque Cunha, do Sindicato Independente dos Médicos, diz à CNN Portugal que “não há sinergia porque um ou outro hospital já está no limite das suas capacidades”, dando o exemplo de especialidades como “otorrinolaringologia, ortopedia, oftalmologia, pediatria e dermatologia”, que, diz, “têm tempos de espera imensos” um pouco por todo o país.

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Mas nos casos de ortopedia e oftalmologia, não são apenas os tempos de espera que preocupam, a quantidade de pessoas em lista para uma cirurgia é também elevado. Em alguns hospitais, como é o caso do Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa, uma cirurgia na especialidade de ortopedia pode demorar 413 dias até acontecer - e há 934 pessoas à espera. No Hospital de Faro, por seu turno, uma cirurgia oftalmológica tem um tempo de espera de 381 dias a acontecer - e a lista conta com 1.264 pessoas.

 

As 10 unidades hospitalares com mais pacientes inscritos para cirurgia dentro do Tempo Máximo de Resposta Garantida (TMRG), segundo o Portal da Transparência

  • Centro Hospitalar Universitário de Coimbra - 10.108 pessoas (13.954 inscritos no SIGIC)
  • Hospital de Braga - 9.444 pessoas (12.417 inscritos no SIGIC)
  • Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central - 9.421 pessoas (13.888 inscritos no SIGIC)
  • Centro Hospitalar Universitário de São João - 8.069 pessoas (8.426 inscritos no SIGIC)
  • Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho - 6.857 pessoas (6.930 inscritos no SIGIC)
  • Centro Hospitalar Universitário do Algarve - 6.272 pessoas (9.812 inscritos no SIGIC)
  • Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte - 6.092 pessoas (8.066 inscritos no SIGIC)
  • Centro Hospitalar Universitário do Porto - 5.648 pessoas (6.381)
  • Hospital Garcia de Orta - 5.392 pessoas (10.587 inscritos no SIGIC)
  • Centro Hospitalar de Leiria - 5.075 pessoas (5.388 inscritos no SIGIC)

As unidades hospitalares com menos de mil utentes inscritos para cirurgia dentro do Tempo Máximo de Resposta Garantida (TMRG), segundo o Portal da Transparência

  • Hospital Arcebispo João Crisóstomo, Cantanhede - 100 pessoas (100 inscritos no SIGIC)
  • Hospital Dr. Francisco Zagalo, Ovar - 405 pessoas (408 inscritos no SIGIC)
  • Unidade Local de Saúde da Guarda - 611 pessoas (1.212 inscritos no SIGIC)
  • Centro Hospitalar Póvoa de Varzim/Vila do Conde - 930 pessoas (931 inscritos no SIGIC)
  • IPO Coimbra - 948 pessoas (1.323 inscritos no SIGIC)

 

Onde há mais utentes à espera de uma cirurgia de ortopedia (e quais as consequências)

  • Hospital de Braga, 3.850 pessoas (262 dias);
  • Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, 3.499 pessoas (343 dias de espera);
  • Hospital de Santo António - Centro Hospitalar Universitário do Porto, 2.058 pessoas (188 dias);
  • Centro Hospitalar Universitário de São João, 1.514 pessoas (120 dias);
  • Hospital Curry Cabral - Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central, 1.457 pessoas (104 dias);
  • Hospital Garcia de Orta, 1.311 pessoas (114 dias);
  • Hospital de Faro - Centro Hospitalar Universitário do Algarve, 1.290 pessoas (99 dias);
  • Hospital Santa Maria - Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, 1.211 pessoas (233 dias)
  • Hospital Distrital de Gaia - Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho, 1.208 pessoas (147 dias):
  • Hospital Dona Estefânia  - Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central, 487 pessoas (431 dias);
  • Hospital de Portimão - Centro Hospitalar Universitário do Algarve, 444 pessoas (135 dias);

Os dados acima, que podem ser consultados aqui, dizem apenas respeito aos hospitais e centros hospitalares com mais de cinco mil utentes em espera para cirurgia.

 

A especialidade de ortopedia é um dos calcanhar de Aquiles das cirurgias em Portugal. Atualmente, existem 18.329 pacientes à espera de cirurgia ortopédica nos hospitais com maiores listas de espera.

Para Nuno Neves especialista em ortopedia e presidente da Sociedade Portuguesa de Patologia da Coluna Vertebral (SPPCV), “é muito difícil dizer qual a causa única” para estes números, no entanto, destaca que “há um problema organizacional, quando há tempos de espera e resposta entre hospitais, há algo que não está a funcionar bem e é preciso mudar isto”, até porque é a saúde, qualidade de vida e até sobrevivência do paciente que está em jogo.

No caso das patologias ortopédicas que requerem cirurgia, “a dificuldade de marcha, as dores crónicas e a incapacidade no dia a dia” são apenas três consequências diretas do atraso do tratamento, que muitas vezes passa pela cirurgia. E estar longos meses à espera “poderá agravar a situação de base”, destaca o médico.

No caso das crianças, e olhando para o exemplo do Hospital Dona Estefânia, em que há 478 menores inscritos com um tempo médio de espera superior a um ano, o retardar da cirurgia não apenas pode levar ao agravamento da condição, como até comprometer o sucesso da cirurgia.

Do ponto de vista da cirurgia infantil, nomeadamente na nossa área da coluna vertebral, as escolioses são deformidades que agravam o tempo, não só é um incômodo para crianças e pais, como [o tempo de espera] vai dificultar a cirurgia”, alerta o presidente da SPPCV.

Nuno Neves destaca ainda que “em relação às listas e tempos de espera, há uma assimetria enorme do país”, e no que diz respeito à cirurgia da coluna, por exemplo,  cirurgia na coluna, há uns anos foi feito “um levantamento nacional” que relatou “uma assimetria grande entre cidades interior e litoral” e até entre cirurgias. “No Hospital de São João, fizemos um número absolutamente anormal de cirurgias, mas para escolioses continuamos com tempos de 200 dias, mas para hérnias quase não temos tempos de espera, em um mês é operado”, diz.

 

Onde há mais utentes à espera de uma cirurgia de oftalmologia (e os números podem ser ainda maiores)

  • Hospital de Braga, 2.947 pessoas (61 dias);
  • Hospital de Santo André - Centro Hospitalar de Leiria, 2.294 pessoas (133 dias);
  • Hospital Garcia de Orta, 2.207 pessoas (174 dias);
  • Hospital Distrital de Gaia - Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho, 1.979 pessoas (125 dias);
  • Hospital dos Capuchos - Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central, 1.899 pessoas (60 dias);
  • Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, 1.641 pessoas (83 dias);
  • Hospital de Faro - Centro Hospitalar Universitário do Algarve, 1.264 pessoas (381 dias).
  • Hospital Santa Maria - Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, 1.170 pessoas (45 dias).
  • Hospital de Santo António - Centro Hospitalar Universitário do Porto, 873 pessoas (24 dias).

Os dados acima apresentados, que podem ser consultados aqui, dizem apenas respeito aos hospitais e centros hospitalares com mais de cinco mil utentes em espera para cirurgia.

 

São 16.274 os pacientes à espera de cirurgia oftalmológica nos hospitais com maiores listas de inscritos para cirurgias. Assim que apresentamos estes números a Rufino Silva, o presidente da direção da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO) não hesitou em classificá-los como “preocupantes”, embora os tempos de espera estejam maioritariamente abaixo dos 180 dias de referência.

“Qualquer lista de espera preocupa-nos como médicos”, diz. Embora saliente ao longo da conversa com a CNN Portugal o esforço que tem vindo a ser feito pelos hospitais portugueses para combater os impactos da pandemia nas consultas de especialidade e cirurgias, frisando que “a pandemia veio perturbar, mas a situação está melhor”, o médico lamenta que o número de pessoas inscritas para operações de oftalmologia seja ainda maior.

A nossa preocupação é que não houve um aumento do número de doentes em espera relativamente a 2019 e isso é preocupante, porque não houve referenciação de doentes. Temos menos doentes em lista de espera do que seria esperado”, justifica.

Para Rufino Silva, “há doenças que não podem esperar os tais seis meses”, referindo-se aos tempos médios de espera para cirurgia, que em casos normais de doença não oncológica está estipulado em 180 dias.

“Deste número que refere, a maior parte dos doentes é de catarata, mas queria que os doentes soubessem que a recuperação da visão é em 100% com cirurgia. Mas em doenças da retina, doenças que causam perda irreversível de visão, quanto a essas estamos preocupados”, frisa o médico, destacando que “dos doentes que não entraram na lista de espera, são os doentes que não foram referenciados”, uma vez que “os cuidados primários estiveram empenhadíssimos - e bem - no combate à pandemia”. 

Para nós é dramático chegar a uma paciente com perda de visão que podíamos ter evitado, é uma situação de sofrimento para nós médicos”, conclui.

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