200 famílias de pescadores passam fome - TVI

200 famílias de pescadores passam fome

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Sindicato alerta que «um pescador não tem direito a coisa nenhuma e as famílias têm vergonha de dizer que passam necessidades»

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O Presidente da delegação do Sindicato dos Trabalhadores da Pesca do Sul na Costa da Caparica afirmou este sábado que «metade das 400 famílias de pescadores na Costa da Caparica, Trafaria e Fonte da Telha passa fome», avança a Lusa.

De acordo com Lídio Galinho, «legalmente, um pescador não tem direito a coisa nenhuma e as famílias têm vergonha de dizer que passam necessidades. Têm o seu orgulho, orgulho de pescador», sublinhou.

A miséria é encoberta com orgulho e vergonha, de olhar no chão: «Conto-lhe a minha história mas não escreva o meu nome», pediram.

A história de cada mês é uma conta de subtrair que começa pelas despesas de casa, «para não se perder o tecto», segue para a farmácia, «que leva quase metade do orçamento», e termina na comida «com o que sobra, como se pode», disseram.

«Temos que dar graças aos supermercados onde ainda vendem latas de grão e de feijão a 20 e 30 cêntimos, ou não sei onde isto ia dar», afirmaram.

Janeiro e Fevereiro os mais difíceis de sempre

Lídio Galinho recordou os meses de Janeiro e Fevereiro deste ano como os mais difíceis de sempre para as famílias dos pescadores.

«O mau tempo não deixava os homens irem para o mar. Agora imagine-se o que é, durante um mês inteiro, estas pessoas, que contam o seu dinheiro todos os dias, um mês sem ganhar», disse.

A pedido do Sindicato, que representa 95 por cento dos pescadores do Concelho de Almada, a Junta de Freguesia da Costa de Caparica dirigiu-se, em carta, ao Governo.

Como resposta, o Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas sublinhou o Artº 4º do Decreto-lei nº 197/2006, de Outubro: «Está prevista a atribuição de compensações financeiras em condições especiais (...) mas não contemplam situações relacionadas com habituais dificuldades de operação durante o Inverno».

«Ninguém se chega à pesca»

«A pesca está a bater no fundo», lamentou Lídio Galinho. «Não temos ninguém com menos de 30 anos a trabalhar e não me parece que as coisas venham a mudar de figura, a ver pela forma como o Governo nos tem tratado», acrescentou.

«Temos um grupo de homens já reformados, entre os 75 e os 84 anos, muitos com problemas de saúde, que ainda saem ao mar porque recebem reformas miseráveis, outro dos 55 aos 75 anos e poucos abaixo dos 55, até aos 30. Ninguém se chega à pesca», afirmou.

«Os pescadores estão muito revoltados», alertou Lídio Galinho. «Eu tenho feito um esforço para os acalmar, mas não garanto até quando. As pessoas estão mal, sentem-se injustiçadas, querem agir».

O líder sindical culpou também «a sobrecarga de fiscalização» a que, diz, «estão sujeitos os pescadores»: «Lembraram-se agora de fazer cumprir regulamentos que têm já 20 anos e aos quais nunca se tinham referido», afirmou.

«Questão da sinalização das artes

«Um exemplo flagrante é a questão da sinalização das artes: numa lei de 1987, que nunca tinha sido tida em conta, é discriminado o tipo de bóias a usar, enquanto que numa de 1990 essa discriminação não é feita, sendo suficiente que haja sinalização».

«Por não utilizar uma sinalização conforme estabelecido na lei de 1987, que na prática todos os pescadores desconhecem e nenhum utiliza, um pescador da Costa de Caparica arrisca-se agora a ter que pagar cinco mil euros de multa¿, acrescentou.

«O mais ridículo», afirmou, «é que a multa terá que ser paga quer pelo homem que comandava o barco, quer pelo proprietário da embarcação, que está acamado, muito doente», adiantou.

O Sindicato vai ser recebido quarta-feira pelo grupo parlamentar dos CDS-PP para expor a situação dos pescadores do Concelho.
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