ACTUALIZADA ÀS 16h03
O enfermeiro Nuno Costa foi processado pelo Hospital de S. João, no Porto, na sequência de uma carta que enviou ao Presidente da República, queixando-se de uma «perseguição» da directora do serviço de otorrinolaringologia, Margarida Santos.
Entretanto, a unidade hospitalar informou, através de comunicado, que decidiu arquivar o processo. «Atendendo ao superior interesse público e à consideração que nos merecem todas as Instituições democráticas, o Conselho de Administração do Hospital de São João decide arquivar o processo, na certeza de melhor servir os interesses do país», lê-se na nota.
Cavaco Silva já teve conhecimento do facto e considerou a situação, através de declarações de fonte oficial de Belém ao «i», «absolutamente inaceitável», garantindo que vai transmitir a questão ao Governo.
«Recebi a reacção do Presidente com muito agrado e não esperava outra coisa. Eu jamais difamei alguém, só quis alertar para os problemas do serviço. Penso que represento o cidadão e funcionário comum que teve a ousadia de denunciar uma situação de abuso das chefias. Espero que tudo isto tenha um cariz pedagógico, para que a atitude e a mentalidade mudem», reagiu Nuno Costa ao tvi24.pt, não querendo comentar mais enquanto o processo decorrer.
O caso remonta a Agosto de 2008, quando Nuno Costa se encontrava de férias e foi avisado por telefone que seria transferido de otorrinolaringologia para a unidade de doentes neutropédicos (com leucemias), «em virtude da intervenção da Dra. Margarida Santos, que lhes havia transmitido [à administração] um suposto comportamento incorrecto» do enfermeiro, conforme se pode ler na carta enviada a Cavaco Silva, a que o tvi24.pt teve acesso.
«Sempre tive uma atitude crítica (...) Foi aqui que provavelmente me terei revelado de certa forma incómodo, ao evidenciar no serviço alguns aspectos negativos que provavelmente não agradaram à sua directora e ao não participar em situações menos claras que são prática regular no referido serviço. A Dra. Margarida Santos tem revelado a sua posição cada vez mais arrogante, de prepotência, consubstanciada no abuso de poder e intimidação dos seus colaboradores», continua a carta.
O enfermeiro de 29 anos sempre sublinhou que o seu caso não seria o único e o tvi24.pt falou com Isilda Silva, uma auxiliar de acção médica do Hospital de S. João que se encontra de baixa psiquiátrica devido... à directora de serviço.
«Entrei no serviço há cerca de três anos e fui muito bem recebida por todos. A única que começou a implicar comigo foi a Dra. Margarida, que me começou a pressionar muito. Ela não gostava de mim, do enfermeiro Nuno e de uma administrativa que também foi transferida», revelou.
Aos 58 anos e depois de ser «trocada» entre ortopedia e traumatologia, Isilda Silva ficou de baixa psiquiátrica e está em casa «há cerca de dois anos». «Eu andava sempre muito nervosa, chorava muito e já não dizia coisa com coisa. Ela tratou-me abaixo de cão, aliás, não se trata um animal assim», afirmou, emocionada, a funcionária que está medicada com anti-depressivos.
Segundo a própria, o hospital nunca a contactou nem deu uma razão para a sua transferência, para além da vontade da directora de serviço.
Tanto Nuno Costa como Isilda Silva alegam que nunca tiveram problemas disciplinares no trabalho, mas, no caso do enfermeiro, a queixa-crime por difamação e o processo disciplinar dentro da unidade, com vista ao seu despedimento, avançaram mesmo. O Código Penal esclarece que o crime de difamação pode ser punido com pena de prisão até seis meses ou com uma multa até 240 dias.
Funcionários com processo e de baixa devido a «perseguição» de directora
- Catarina Pereira
- 22 mai 2009, 13:49
Clima no Hospital de S. João não podia ser pior. E até Cavaco Silva está metido no assunto
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