A morte de quatro em cada 10 doentes que morrem em Portugal no serviço de urgência, teoricamente, seria evitável se os serviços funcionassem correctamente, defendeu, quinta-feira à noite o presidente do Conselho Regional do Centro da Ordem dos Médicos.
José Manuel Silva defendeu também em Coimbra, que é «impossível trabalhar com qualidade» nos serviços de urgência devido aos congestionamentos provocados pela reforma da saúde em curso.
«Os serviços de urgência não estão dimensionados para a procura. O espaço físico, os recursos técnicos e humanos são claramente insuficientes», frisou José Manuel Silva.
«O congestionamento aumenta a mortalidade em 43%»
O médico e professor na Universidade de Coimbra intervinha num debate sobre o «Direito à Saúde: Reforma dos Cuidados de Saúde Primários e das Urgências», promovido pela República do Direito - Associação Jurídica de Coimbra.
Perante uma plateia reduzida de pessoas, José Manuel Silva afirmou que «hoje corremos risco quando vamos a um serviço de urgência», acrescentando que nesses locais «os doentes não estão a ser bem assistidos» devido ao congestionamento que se regista.
«Hoje corremos risco quando vamos a um serviço de urgência»
«O congestionamento aumenta a mortalidade em 43 por cento. Portanto, quatro em cada 10 doentes que morrem em Portugal no serviço de urgência, teoricamente seriam evitáveis se tivéssemos o serviço a funcionar correctamente», sublinhou.
Embora reconheça que a reforma está «perfeita na sua definição», José Manuel Silva considera que para ser implantada exigia-se «condicionalismos que não foram cumpridos», entre eles a falta de uma rede pré-hospitalar, de ambulâncias.
O presidente do Conselho Regional do Centro da Ordem dos Médicos considera que se fosse respeitado todo o relatório da reforma das urgências pelo Ministério da Saúde «as coisas teriam corrido de outro maneira».
«Efectivamente o relatório serviu para conferir objectivos economicistas, não sendo esse o objectivo que presidiu à elaboração do relatório», disse José Manuel Silva.
Presente no debate, o cirurgião José Manuel Almeida, da comissão técnica de apoio ao Processo de Requalificação das Urgências, explicou a reforma elaborada com a necessidade de atender ao tempo actual, em que os serviços são mais procurados e os «recursos humanos extremamente escassos».
Reforma não tem objectivos economicistas
Referindo que em Portugal existe um «problema claro de organização», o médico do Centro Hospitalar de Coimbra rejeitou que a reforma tivesse objectivos economicistas, tendo em conta as avultadas verbas que a criação da rede de urgências implica.
Segundo José Manuel Almeida, com a futura rede de urgências 90 por cento dos portugueses ficará a «menos de 30 minutos de um verdadeiro serviço de urgência», rejeitando que a reforma contribua para o despovoamento do interior do País.
Quando os serviços de urgência matam
- Portugal Diário
- 22 fev 2008, 08:33
Basta que funcionem mal: morte de 4 em cada 10 doentes seria evitável
Continue a ler esta notícia