Morgue: cerca de 80 corpos ficam por reclamar todos os anos - TVI

Morgue: cerca de 80 corpos ficam por reclamar todos os anos

Crime em Coimbra (Paulo Novais/Lusa)

Todos anos, há cadáveres que ficam à espera no Instituto Nacional de Medicina Legal

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Todos os anos, cerca de 80 corpos ficam por reclamar nos gabinetes médico-legais do Instituto Nacional de Medicina Legal, a maioria de sem-abrigo, toxicodependentes e imigrantes. Este ano, já ultrapassa a meia centena os mortos que ninguém chora.

Dados do Ministério da Justiça avançados à agência Lusa indicam que, no ano passado, ficaram por reclamar pelas famílias 67 corpos e este ano são já 55, a maioria em Lisboa (18) e no Porto (16).

«São essencialmente casos de pessoas idosas desprezadas pela família, que morrem sozinhas na habitação, num hospital ou num lar de idosos da Segurança Social e depois as famílias não os reclamam para, se calhar, não terem a despesa inerente a um funeral», disse à agência Lusa o presidente do Instituto Nacional de Medicina Legal (INML), Duarte Nuno Vieira.

Entre estes casos estão também muitos toxicodependentes, com idades entre os 30 e os 40 anos, que foram marginalizados pela sociedade e desligados das famílias. «Muitos aparecem mortos por overdose ou pelas doenças características do Inverno», explicou Duarte Nuno Vieira, adiantando que estes casos aparecem mais nesta estação do ano.

Há também muitos imigrantes, principalmente de Leste, que morrem e as famílias não têm recursos económicos para pagar o seu repatriamento, acabando por nunca reclamar os corpos. Por lei, o prazo máximo que os mortos não reclamados podem ficar nos serviços médico-legais é de 30 dias.

Mas há excepções, conforme explicou Duarte Nuno Vieira: «Quando sabemos que andam a tentar encontrar a família ou que é um imigrante e que a família está a tentar reunir dinheiro para repatriá-lo, nós, desde que tenhamos capacidade para armazenar o corpo, retemo-lo por mais tempo, às vezes por dois, três ou quatro meses».

Misericórdias enterram aqueles que não têm ninguém

Compete depois às câmaras municipais das cidades, onde há as delegações do INML, proceder ao enterramento do corpo, que tem a sua campa identificada com um número atribuído pelo cemitério caso apareça algum familiar.

Duarte Nuno Vieira salientou à Lusa o «apoio muito grande» dado pelas misericórdias nesta tarefa de enterrar aqueles que não têm ninguém.

«Em Lisboa, a Santa Casa da Misericórdia desenvolve um trabalho notável com os indigentes e pessoas sem família, tratando das exéquias fúnebres e do enterramento dessas pessoas», comentou.

Santa Casa da Misericórdia de Lisboa enterrou 146 mortos entre Outubro de 2007 e Outubro desde ano

A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) enterrou, entre Outubro de 2007 e Outubro deste ano, 146 mortos no concelho de Lisboa, quase o dobro do que aconteceu em Paris, disse à Lusa o irmão provedor Pedro Vasconcelos, da Irmandade de São Roque, que tem como missão fazer as cerimónias fúnebre destas pessoas.

Pedro Vasconcelos explicou que a SCML é alertada pelos hospitais civis e pelo INML para a existência destes casos e depois procede ao seu funeral.

Segundo o provedor da Irmandade de São Roque, o número de pessoas que morrem abandonadas tem «vindo a crescer muito ligeiramente porque, apesar de tudo, há muitas associações a tratar dos sem-abrigo».

Alguns são mesmo enterrados sem ninguém saber quem são, pois não têm qualquer cartão que os identifique. Para todos, a Irmandade de São Roque assegura um funeral católico «condigno».

Mas como não se sabe a religião que tinham, a Irmandade decidiu fazer, a partir do próximo ano, uma cerimónia com representantes de todas as confissões religiões.
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