«O pai dá murros à mãe?» - TVI

«O pai dá murros à mãe?»

  • Portugal Diário
  • 13 jan 2007, 20:50
(Foto de arquivo - Lusa)

Inquérito do Instituto da Droga, nas escolas, inclui perguntas sobre violência doméstica e vida sexual dos pais dos alunos. Encarregados de educação estão indignados e temem que as crianças fiquem traumatizadas

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O inquérito nacional sobre consumo de drogas distribuído nas escolas no final de 2006 abrangeu pela primeira vez perguntas sobre violência doméstica e aspectos da vida sexual dos pais dos alunos, o que indignou alguns encarregados de educação, escreve a Lusa.

O questionário, promovido pelo Instituto da Droga e Toxicodependência (IDT), pergunta aos alunos se o pai ou a mãe se insultam e com que frequência, se o pai impede a mãe de falar em público (e vice-versa) e se o pai obriga a mãe a ter relações sexuais contra a vontade desta.

Terão sido estas questões que causaram mal-estar pelo menos numa escola da região Norte e nalguns pais do distrito de Setúbal, quando foram informados pelos filhos sobre o teor do inquérito.

Isto porque nem todas as escolas solicitaram autorização aos representantes dos pais para a distribuição dos inquéritos.

O objectivo deste inquérito é «caracterizar o fenómeno do consumo de substâncias psicoactivas (álcool, droga, tabaco e medicamentos) entre os jovens em idade escolar, de modo a permitir acompanhar o seu desenvolvimento ao longo do tempo, aos níveis nacional, regional e local», segundo o IDT.

Fernanda Feijão, autora deste inquérito, que se realiza de quatro em quatro anos e que foi dado aos alunos para responderem nos últimos dias do ano passado, disse à Lusa que o estudo envolve cerca de 100 mil alunos do terceiro ciclo do ensino básico e do ensino secundário, distribuídos por mais de 800 escolas.

João (nome fictício) é um dos encarregados de educação que se revelou indignado com o teor das perguntas e, principalmente, por os alunos não terem um esclarecimento prévio sobre os temas a que foram convidados a responder.

Pai de um aluno do sétimo ano que frequenta uma escola no distrito de Setúbal, João contou à Lusa que foi o filho que lhe informou sobre o inquérito, já depois de ter respondido ao questionário.

A primeira pergunta que indignou João pretendia saber quem leva o aluno à escola: o pai ou a mãe? «Os alunos só podiam responder o pai ou a mãe. Como se não pudessem ser os dois a levá-los, ainda que alternadamente», disse.

Violência doméstica

Mas foram as perguntas sobre violência doméstica que mais indignaram João, sentimento que este encarregado de educação encontrou igualmente em outros pais com quem falou sobre o tema.

«Não são perguntas que se façam de uma forma gratuita e inesperada, ainda que o inquérito fosse anónimo e de carácter facultativo», disse, referindo-se à pergunta sobre se o pai obriga a mãe a ter relações sexuais contra a sua vontade ou se este costuma agredir a mãe com murros e pontapés.

Este pai adiantou que, graças a um esclarecimento que deu ao filho, o aluno não deverá ficar traumatizado com as perguntas, mas revelou-se preocupado com os estudantes que não foram devidamente esclarecidos pelos seus encarregados de educação.

Autora não subscreve as críticas

Segundo Fernanda Feijão, este é «um questionário que faz pensar». «A violência doméstica é um crime público e é do maior interesse saber se existe alguma relação com os consumos de substâncias psicoactivas», disse a responsável.

Ao longo de várias páginas, são colocadas várias questões sobre a família: como a caracterização da vida doméstica, a vinculação do aluno à família e o tipo de controlo parental.

O inquérito aborda muitas outras variáveis, como os tempos livres ou as competências inter-sociais, além dos consumos de substâncias como tabaco, o álcool, a droga ou os medicamentos.

Resultados preliminares deverão ser conhecidos no final do primeiro semestre. Relatório final só deverá estar pronto no próximo ano.
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