Este ano foram realizados menos cem transplantes - TVI

Este ano foram realizados menos cem transplantes

Saúde (Foto Cláudia Lima da Costa)

Transplantação caiu 22 por cento no primeiro semestre, enquanto há dois mil portugueses à espera de um rim. Nova campanha tenta combater a situação

No primeiro semestre deste ano foram realizados menos 100 transplantes do que no mesmo período do ano passado (458 em 2011, 358 em 2012), o que equivale a menos 22%, segundo os últimos dados a que o tvi24.pt teve acesso.

Também o número de órgãos colhidos diminuiu 16% (493 em 2011, 412 em 2012) e o número de dadores cadáveres desceu 15,2% (157 em 2011, 133 em 2012).

Segundo os dados provisórios da Autoridade para os Serviços de Sangue e da Transplantação (ASST), entre janeiro e junho de 2012 a queda foi quase total, com a única exceção do transplante pulmonar.

«Os números estão a descer desde 2010, mas a quebra é bastante mais acentuada agora. O motivo óbvio é transversal a toda a Europa: há menos acidentes de viação e há uma diminuição da mortalidade dos AVC, que são as principais fontes de órgãos», explicou ao tvi24.pt Fernando Macário, presidente da Sociedade Portuguesa de Transplantação (SPT), que lançou uma nova campanha esta sexta-feira, no Dia do Transplante, e que defende uma auditoria a estes resultados negativos.

Para o responsável da SPT, o corte nos incentivos aos transplantes «não é um fator importante» na análise desta redução, mas a fusão da ASST com o Instituto Português do Sangue e os três centros de Histocompatibilidade influenciou os resultados. «Nesta área, é fundamental as pessoas terem referências e um estímulo à sua atuação e isso aconteceu menos durante esta reestruturação», apontou.

Questionado sobre o impacto desta reorganização, o presidente do novo Instituto Português do Sangue e do Transplante, Hélder Trindade, admitiu que «a situação é complicada» e que está «preocupado» com os números que vai receber. O responsável declarou que a transplantação está «em gestão corrente» até à fusão dos quatro institutos, que antevê só estar concluída «daqui a pelo menos um mês».

Segundo o que o tvi24.pt apurou, a redução da transplantação já se reflete na lista de espera para um transplante renal, que está a aumentar nos últimos dois anos depois de ter diminuído entre 2008 e 2009. No final de 2010, havia 1930 portugueses à espera de um novo rim, enquanto no final de 2011 o número subiu para 1973. Atualmente, há dois mil doentes em lista de espera, a maioria no Sul do país (1020), seguido do Norte (675) e só depois do Centro (305).

A campanha da SPT, denominada «Doar um Rim Faz Bem ao Coração», visa aumentar a colheita de órgãos através de dador em coração parado e de dador vivo. No primeiro caso, Fernando Macário lembra que é necessário alterar a lei de forma a permitir que, em caso de paragem cardíaca irreversível, os serviços de emergência possam «atuar imediatamente sobre esse cadáver, protegendo os órgãos e transportando-os rapidamente». «Desta maneira podíamos aumentar em 10% o número de dadores», defendeu.

Em relação ao aumento da colheita através de dador vivo, a SPT aposta em «aumentar a informação», porque «as pessoas têm alguns receios das repercussões desta doação e ainda não há essa tradição» em Portugal. Fernando Macário garante que os hospitais de Santo António e S. João, no Porto, os Hospitais Universitários de Coimbra e os hospitais Curry Cabral e Santa Maria, em Lisboa, «têm capacidade» para realizar esses transplantes «desde que tenham mais dadores». O responsável acredita que será possível «fazer pelo menos o dobro ou até o triplo» destes transplantes.

Os profissionais de saúde e os utentes são os alvos desta campanha, que irá incidir nos centros de saúde, com campanhas publicitárias, ações de formação a até um site interativo para colocarem dúvidas. «É importante saberem, por exemplo, que um dador de rim pode sair do hospital ao fim de apenas 24 ou 48 horas. É um transplante bastante seguro», explicou Fernando Macário.
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