Acha que tem liberdade de escolha?

O neurologista António Damásio explicou esta terça-feira os fundamentos da neuro-anatomia do comportamento humano a profissionais de marketing e comunicação, cada vez mais sensíveis à influência de factores emocionais nas opções de compra dos consumidores, noticia a Lusa.

«Não há decisões 100 por cento lógicas ou racionais, porque as nossas preferências básicas são condicionadas por uma série de outros factores», disse numa conferência em Lisboa o autor de best-sellers como «O Erro de Descartes» (1995), «O Sentimento de Si» (2000) e «Ao Encontro de Espinosa» (2003).

«A liberdade de escolha é extremamente limitada», sublinhou António Damásio.

Na sua perspectiva, as escolhas individuais são influenciadas por factores tão diversos como a necessidade biológica, as emoções e experiências passadas, a familiaridade com algo ou com uma situação e ainda com factos que dizem respeito a uma situação.

Como exemplo, relatou uma experiência em que dois voluntários foram encaminhados para duas salas separadas, numa em que tinham de resolver um problema simples e noutra com um problema complicado, tendo-lhes à saída sido dada a opção, como recompensa, de comerem um fruto muito saudável ou uma fatia de bolo cheio de creme. Como resultado, o que resolveu o problema complicado escolheu o bolo e o outro o fruto.

Freud e Darwin «abalaram»convicções

Recuando na história, António Damásio recordou que a antiga noção de que o comportamento é dominado pela razão sofreu dois grandes abalos com Freud, ao chamar a atenção para a influência das experiências da infância no comportamento adulto, e com Darwin, cuja influência, na sua óptica, só começou a ser assimilada cem anos depois.

Para entender os mecanismos comportamentais que devem fundamentar as estratégias de marketing, seja de um produto, de uma marca ou de um político, é preciso ter em conta a influência das emoções nas decisões, tanto conscientes como não conscientes, e também da genética, afirmou.

No fundo, assinalou, o comportamento humano é movido pela necessidade de evitar a dor ou uma punição e a de alcançar o prazer ou uma recompensa, numa permanente tentativa de equilíbrio entre ambos.

Numa mensagem final ao auditório, constituído por profissionais de marketing e comunicação, grupos de comunicação, jornalistas, artistas, médicos e representantes do Ministério da Cultura, António Damásio apelou para que, «além de carros, os profissionais de marketing se empenhem na promoção de políticas educativas e científicas».