Skins: «Tive medo, senti-me ameaçado» - TVI

Skins: «Tive medo, senti-me ameaçado»

Julgamento de Skinheads

Daniel Oliveira relatou encontro com Mário Machado. Líder dos skins garantiu que «o partia todo» e lhe «arrancava a cabeça» se voltasse escrevesse sobre ele

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«Tive medo, senti-me ameaçado», confessou Daniel Oliveira, jornalista e ex-assessor do Bloco de Esquerda na Assembleia da República, no julgamento que senta 36 elementos considerados de extrema-direita, no banco dos réus por diversos crimes. Entre os vários delitos estão em causa actos de descriminação racial, detenção ilegal de armas, ameaças, agressões e sequestro.

O jornalista relatou em tribunal que em Dezembro de 2006 foi abordado na rua, por Mário Machado e Vasco Leitão - outro membro da Frente Nacional -, não tendo reconhecido de imediato nenhum dos arguidos.

«Olá! Estás a ver quem sou? Sou o "Marcolas"», terá dito Mário Machado a Daniel Oliveira referindo-se a uma crónica publicada no semanário Expresso e onde o jornalista fazia uma analogia entre o líder da Frente Nacional e um delinquente brasileiro conhecido por "Marcolas". O jornalista confessou aos juízes que mesmo com a referência a este nome, só percebeu que estava perante de Mário Machado quando este se identificou como tal.

Em seguida, de acordo com Daniel Oliveira, Mário Machado terá afirmado que apresentou queixa contra o jornalista, por difamação, insultando-o de seguida com a expressão «paneleiro de merda».

Em seguida, relatou a testemunha, Mário Machado terá dito ainda «se voltas a escrever sobre mim parto-te todo. Tem cuidado a andar na rua. Arranco-te a cabeça». Além das palavras, o arguido ainda terá simulado gestos de «murros».

«Saia de casa sempre acompanhado»

Perante as palavras de Mário Machado e «a convicção» com que foram pronunciadas, Daniel Oliveira confessou ter sentido medo. «Assustado, mas racionalmente» pediu ao líder dos skins e ao amigo para o «acompanharem à esquadra». Dirigiram-se ao posto da PSP na Assembleia da República, o mais perto da Rua Nova da Piedade onde se cruzaram. Ambos apresentaram queixa.

A partir daí, o jornalista garantiu em tribunal que os seus comportamentos diários sofreram alteração «por receio». «Só saia de casa acompanhado. Deixei de frequentar zonas de diversão nocturna, como o Bairro Alto, onde a presença de skins é comum. Só ia, por exemplo, ao cinema porque é um espaço público fechado».

Questionado pelo colectivo de juízes sobre o que poderia ter motivado esta atitude de Mário Machado e Vasco Leitão, Daniel Oliveira foi peremptório em fazer uma ligação à defesa pública que faz «dos direitos dos emigrantes e dos homossexuais». Para Oliveira, este comportamento teve «motivação política».

Mário Machado ofendido?

José Manuel Castro, responsável pela defesa do líder da Frente Nacional, questionou o jornalista sobre se a postura do seu cliente não teria por base «o direito à indignação», perante o que tinha sido escrito «pouco tempo antes».

«Já lidei com pessoas que se sentiram ofendidas por coisas que escrevi e nenhuma se dirigiu a mim naqueles termos», justificou o Daniel Oliveira, que garantiu terem passado «cerca de quatro meses» entre a abordagem e a publicação do texto.

A crónica foi escrita, após uma reportagem da RTP, onde Machado foi entrevistado e que levou à sua detenção. A analogia entre Mário Machado e o delinquente brasileiro conhecido por "Marcolas" teve por base, justificou o jornalista, «personalidades que mascaram actos de criminalidade comum com discursos políticos».

«Acha que um desordeiro o acompanhava à esquadra?», perguntou o advogado do arguido mais mediático do processo. Reconhecendo «não estar na cabeça dos outros», Oliveira justificou «o medo» com o «passado público» e os actos violentos a que o nome de Machado surge ligado.

«Quando é que devo sentir medo? Depois de ser espancado?», perguntou a José Manuel Castro.

Além das «ameaças» feitas pessoalmente, o ex-assessor do BE lembrou as ameaças feitas através da internet, de e-mails e de comentários colocados no site «Fórum nacional» como, por exemplo, a existência de «cordas penduradas para enforcar danieis».
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