Pedofilia: porta-voz do Vaticano diz que Papa aclarou discurso

O director da Sala de Imprensa do Vaticano, o padre Federico Lombardi, disse que as declarações que o Papa fez esta terça-feira de manhã sobre o tema dos escândalos da Pedofilia não representam uma alteração do discurso da Igreja sobre o tema, admitindo, porém, que ainda não o tinha abordado «com esta densidade e clareza».

Em resposta aos jornalistas que viajavam consigo de avião de Roma para Lisboa, Bento XVI disse que «a maior perseguição à Igreja não vem dos inimigos exteriores, mas nasce do pecado da Igreja», salientando que «o perdão não substitui a justiça», numa referência aos abusos cometidos por elementos ligados à Igreja.

O Papa nunca o acusou os meios de comunicação de serem responsáveis por qualquer campanha contra a Igreja. Mas diversas vozes com responsabilidades eclesiais o fizeram.

Num dos episódios mais mediáticos, o pregador da Casa Pontifícia, Raniero Cantalamessa, leu uma carta a Bento XVI, durante as celebrações de Sexta Feira Santa, em que um amigo seu judeu comparava os «ataques» contra a Igreja por causa da pedofilia, com os «aspectos mais vergonhosos do anti-semitismo». Mais tarde retractou-se deste acto.

Em Portugal, o bispo de Beja, D. António Vitalino Dantas, apesar de admitir que o abuso sexual de crianças se trata de um «pecado grave», falou em «lobbies anti-Igreja» que a procuram «denegrir». E apontou um: «O lobbie dos gays».

Numa conferência de imprensa realizada esta noite, em Lisboa, quando questionado sobre as declarações do Papa desta terça-feira representam uma viragem no discurso papal, o padre Lombardi assegurou que não.

«Não encontro uma alteração particular, nem de extraordinária novidade, quando ao conteúdo», salientou. O responsável pela comunicação do Vaticano matizou, no entanto: «O papa talvez tenha expressado de um modo mais claro e explícito a forma como vive e vê o significado espiritual desta situação da Igreja, como é o escândalo da pedofilia».

«Com esta densidade e clareza não o disse nestes dias», admitiu, para depois salientar que o pensamento do Papa sobre esta matéria se encontra «expresso de forma mais articulada e mais clara» na carta enviada à Igreja Irlandesa.