Quinta da Fonte: «Existe muita intolerância» - TVI

Quinta da Fonte: «Existe muita intolerância»

Marcha da paz na Quinta da Fonte

Equipa dos Médicos do Mundo que trabalha no bairro alerta para a necessidade de um trabalho contínuo

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A equipa dos Médicos do Mundo que trabalha na Quinta da Fonte alerta para a necessidade de um trabalho contínuo pois admite existir muita dificuldade no relacionamento entre as diferentes comunidades que vivem naquele bairro, escreve a Lusa.

Sara Rodrigues, que é uma das enfermeiras da associação Médicos do Mundo que intervêm no Bairro da Quinta da Fonte em Loures há cerca de um ano, defende que «existem problemas estruturantes que proporcionaram os confrontos do passado dia 11, entre a comunidade africana e cigana e que ainda não foram resolvidos».

«São duas comunidades com graves problemas financeiros e com pouca escolaridade, o que acaba por dificultar a integração efectiva no espaço onde habitam», explica.

Sara Rodrigues explicou ainda que «existe uma grande intolerância entre as duas comunidades, o que tem provocado dificuldades no seu relacionamento». «Têm culturas completamente diferentes», referiu, «e não conseguem respeitar essas diferenças», lamentou.

Quinta da Fonte: famílias ciganas ameaçam regressar à rua

Polícia de olho nos ciganos

Para esta enfermeira um dos principais problemas está na falta de identificação dos moradores da Quinta da Fonte com o espaço onde habitam, coisa que não acontece por exemplo no Bairro da Cova da Moura na Amadora onde esta enfermeira diz existir um sentimento de pertença.

Os motivos para essa falta de identificação com o espaço devem-se na opinião de Sara Rodrigues à arquitectura do bairro e à falta de condições de higiene que ainda existem em algumas casas.

«A arquitectura do bairro da Quinta da Fonte não favorece o diálogo entre os diferentes intervenientes daquele espaço. Da rua principal que atravessa o bairro derivam diversas ruas que vão dar a pequenas pracetas, o que acaba por promover o secretismo e a criminalidade», explicou

Esta enfermeira denunciou ainda problemas de higiene nas casas, como infestações de ratos e baratas que no seu entender vêm agravar o problema.

«Às vezes parecem questões insignificantes, mas na verdade são mais importantes do que aquilo que se pensa», alerta.

Cabe à polícia investigar

Quando questionada sobre os conflitos que envolveram as comunidades cigana e africana e as verdadeiras razões que estivaram por detrás do tiroteio, Susana Rodrigues respondeu «que cabe à Polícia investigar o que se passou», e explicou que «a única tarefa dos Médicos do Mundo é a ajudar as pessoas a recuperar».

«O mais importante de tudo é ajudar as pessoas, pois o resto é secundário», disse Sara Rodrigues, que acusou os meios de comunicação de estarem a exagerar na transmissão das imagens do tiroteio.

«Acho que é tempo de pararem de falar em violência. O bairro não tem só coisas más, por isso mostrem também as boas», disse.

Sara Rodrigues referiu ainda que antes dos confrontos do dia 11 «existiam alguns sinais de que a relação entre as duas comunidades estava a pacificar-se, o que a leva a pensar que nada está perdido, sendo apenas preciso muito trabalho e paciência».

«Perdeu-se um pouco do trabalho que vinha a ser desenvolvido, mas temos de ter esperança que o podemos resgatar», apontou, realçando que o importante mesmo é «nunca abandonar as pessoas». «Estamos a falar de pessoas não de animais, e por isso merecem todo o nosso trabalho e dedicação», concluiu.
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