Sacavém: caos uma semana depois - TVI

Sacavém: caos uma semana depois

  • Portugal Diário
  • Cláudia Páscoa, da agência Lusa
  • 25 fev 2008, 22:34
Uma semana depois das cheias, Loures e Santarém - Foto de Mário Cruz para Lusa

Removem lamas e destroços, depois da água ter ultrapassado os dois metros de altura. Comerciantes e moradores não poupam críticas à câmara e a uma empresa de obras Ressaca de uma manhã submersa Milhões de prejuízos com as inundações

Uma semana após as cheias em Sacavém, Loures, moradores e comerciantes da Praça da República, onde a água ultrapassou dois metros de altura, criticam a Câmara e a construtora Obriverca, enquanto «fazem contas à vida» e removem lamas e destroços das casas.

Críticas à junta de freguesia, ao presidente da Câmara de Loures, que «só apareceu na televisão e nunca apareceu para dar uma explicação ou uma palavra de conforto» aos afectados pelas cheias, e à construtora Obriverca «que tapou a ribeira do Prior Velho com areias e pedras que removeu de locais onde está a construir prédios», marcaram o discurso de moradores e comerciantes do centro, ouvidos esta segunda-feira pela agência Lusa, uma semana depois das últimas cheias.

«Alguém tem que ser responsabilizado pelo que se passou e neste caso os responsáveis têm dois nomes: câmara, que não procede à limpeza de sarjetas nem de sumidouros, e a construtora Obriverca, que é intocável, e que usa a ribeira do Prior Velho como aterro sem que a câmara os proíba ou fiscalize», frisou José Carapinha, proprietário de um stand de automóveis.

Processo judicial contra a câmara de Loures

Por isso mesmo ¿ enfatizou ¿ vai interpor um processo judicial por perdas e danos contra a autarquia para que «alguém seja responsabilizado pelos 200 mil euros de prejuízos que teve com estas cheias» e que a somar aos das cheias de Setembro fizeram com que ficasse «sem nada».

Instado a responder às críticas dos populares, o vereador do Ambiente, João Galhardo, negou que a autarquia não tivesse procedido à limpeza preventiva de sarjetas e sumidouros, sublinhando que as cheias se deveram a uma queda de pluviosidade excepcional.

Autarquia rejeita acusações

«O grande problema da Praça da República são as construções que datam de há muitos anos e que estão feitas abaixo do leito do rio Trancão», frisou, acrescentando que a autarquia também já limpou a ribeira do Prior Velho.

Sobre a questão da Obriverca, João Galhardo disse que a autarquia já accionou meios de fiscalização para apurar se a Obriverca tinha retirado areias dos locais onde anda a construir urbanizações colocando-a na ribeira do Prior Velho.

Aos quase 59 anos, José Carapinha diz que lhe restam os encargos com a prestação do stand, os salários dos quatro empregados e os impostos que continua a ter de pagar, apesar de ter perdido os 12 carros que tinha para venda.

A agravar os prejuízos está o facto de este comerciante nunca ter conseguido fazer seguro para o stand porque «de há uns anos a esta parte as companhias são muito renitentes em fazer seguro neste local», sublinhando que nos casos mais antigos ainda há quem tenha seguro.

Duas horas no tejadilho de um jipe para ser resgatado

Duas horas foi o tempo que o proprietário do stand disse ter esperado em cima do tejadilho de um jipe para ser resgatado por elementos da protecção civil, pelo que as suas críticas vão também para a actuação desta autoridade.

Manuel Malpique, morador no centro, é outro dos críticos à actuação do presidente da autarquia, levantando também o dedo aos proprietários da Obriverca que «entupiram a ribeira do prior Velho, com as areias e as pedras retiradas dos locais onde estão a construir sem que a autarquia faça o que quer que seja».

«A câmara sabe muito bem por que motivo há cheias aqui. Não limpam sarjetas, tapam com alcatrão as grades de ferro para escoamento de águas e ainda fecham os olhos aos senhores da Obriverca que tapam a ribeira do Prior Velho, fazendo com que ela transborde e provoque inundações».

Cerca de 23 milhões de euros é o custo apontado pelo presidente da autarquia para os prejuízos, razão por que solicitou o estado de «calamidade pública». Este mês será lançado o concurso para a construção de um açude na ribeira do Prior Velho, que visa impedir que cheias se repitam.

A Lusa tentou contactar a empresa Obriverca, o que não foi possível até ao momento.
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