Pescadores «familiares» não querem fazer greve «à força» - TVI

Pescadores «familiares» não querem fazer greve «à força»

Pesca (arquivo)

Têm medo de sair para o mar depois dos confrontos dos últimos dias

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Os pescadores de Vila Praia de Âncora, Caminha, com pequenas embarcações familiares movidas a gasolina queixaram-se esta segunda-feira que estão a fazer greve «à força», alegando que o actual protesto apenas defende os interesses dos armadores.

«Os grevistas, que são sobretudo os armadores, não lutam pela baixa de combustíveis mas sim pelo aumento dos subsídios para os depósitos das suas embarcações a gasóleo. Já alguém os ouviu a pedir ajuda para as pequenas embarcações familiares com motores a gasolina?», questionou, em declarações à agência Lusa, Rui Carvalho, o porta-voz daqueles pescadores de Vila Praia de Âncora.

Nesta localidade há cerca de uma dúzia de embarcações a gasolina que não aderiram à greve, por tempo indeterminado, dos pescadores nacionais, iniciada sexta-feira, contra o aumento do preço do gasóleo.

Segunda-feira, nove dessas embarcações foram surpreendidas, à chegada da faina, por um grupo de pescadores de Matosinhos que ali se deslocaram após denúncias de que estavam a furar a greve.

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Após alguns confrontos verbais, e a intervenção da Polícia Marítima, foram obrigados a doar o pescado a instituições de solidariedade social.

«Se os barcos não saírem para o mar, quem vai alimentar estas famílias?»

«Hoje, já só saiu um dessas embarcações, porque as outras tiveram medo. Mas será legal obrigar alguém a fazer greve à força? Afinal, em que país é que estamos? Os grandes armadores querem que não haja peixe nenhum no mercado, para conseguirem os seus intentos. Mas e estes pequenos pescadores, o que lucram com esta greve?», insurgiu-se Rui Carvalho.

Lembrou que a actividade de cada uma daquelas embarcações alimenta famílias inteiras, desde o homem que vai à pesca até à mulher que vende o peixe, passando por filhos, tios e sobrinhos que se dedicam à amanha das redes.

«Se os barcos não saírem para o mar, quem vai alimentar estas famílias? Os grandes armadores não serão, certamente», acrescentou Rui Carvalho, sublinhando que aqueles pescadores de Vila Praia de Âncora «não têm nada a ver, nem nada a lucrar» com esta greve.

Rui Carvalho explicou que os pescadores com barcos a gasóleo beneficiam de subsídios para os combustíveis superiores aos dos agricultores, pagando apenas 87 cêntimos por litro.

Os pequeninos, que apenas conseguem ter um motor a gasolina, pagam 1,49 euros por litro e, no caso de Vila Praia de Âncora, não têm um porto onde se possam abastecer, tendo que se deslocar com bidões a um posto de abastecimento, «arriscando-se a uma coima ou mesmo a apreensão do próprio veículo», disse ainda.

Por isto tudo, e vendo de antemão que o Governo, se ceder, vai ser a favor das embarcações movidas a diesel, nós vamos continuar a carregar os nossos «bidõezinhos», disse o pescador sustentando que «não se podem identificar, nem colaborar com esta greve».
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