Vírus andam «à boleia» dos profissionais de saúde - TVI

Vírus andam «à boleia» dos profissionais de saúde

Estetoscópio

Batas, estetoscópios e telemóveis dos médicos são os principais veículos de transmissão de agentes infecciosos

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Os vírus e as bactérias chegam de várias maneiras aos doentes internados nos hospitais e, às vezes, através da aparentemente inocente bata dos médicos e do seu inseparável estetoscópio. Os telemóveis também dão «boleia» a alguns agentes infecciosos.

As mãos dos profissionais de saúde têm sido apontadas como os principais veículos de transmissão de agentes infecciosos nos hospitais, segundo informação da Agência Lusa.

Campanha de higiene das mãos nos hospitais

Em Portugal, as infecções hospitalares afectam oito em cada cem doentes e, segundo o último inquérito nacional de prevalência da infecção adquirida em meio hospitalar, 30 a 40 por cento das infecções provocadas por agentes resistentes são resultado da colonização e infecção cruzada, tendo como veículo principal as mãos dos profissionais de saúde.

Este facto levou a Organização Mundial de Saúde (OMS) a promover uma campanha de higiene das mãos nos hospitais, a qual visa prevenir infecções entre os doentes e os profissionais do sector. Portugal já aderiu à iniciativa.

Entre as várias medidas desenvolvidas para combater a transmissão de agentes infecciosos em meio hospitalar consta a obrigatoriedade da lavagem das mãos dos profissionais de saúde, seja em lavatórios ou com soluções acéticas.

Batas, estetoscópios e telemóveis são inimigos

Depois das mãos, os hospitais deparam-se com outros inimigos. Uns são eternos - como as batas e os estetoscópios - e outros são sinais dos tempos e das novas tecnologias, como os telemóveis.

Recentemente, um estudo revelou que os telemóveis utilizados por profissionais de saúde estão contaminados com microrganismos. Alguns destes agentes causam doenças e infecções hospitalares.

O estudo, de origem turca, foi publicado em Março na revista científica «Annals of Clinical Microbiology and Antimicrobials» e identificou 95 por cento dos telefones contaminados.

Os investigadores liderados por Fatma Ulger, da Ondokuz Mayis University, analisaram os telemóveis e as mãos (usadas no telefone) de 200 médicos, enfermeiros e outros profissionais das Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) e salas de cirurgia.

No âmbito da investigação, foram isolados dos telemóveis de profissionais das UCI microrganismos responsáveis por infecções graves, entre os quais estafilococos.

Profissionais descuram cuidados

A propósito do Dia Internacional do Controlo da Infecção, que se assinala esta quarta-feira, a Agência Lusa ouviu o director do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), que reconheceu serem as infecções hospitalares uma das principais preocupações dos profissionais de saúde pública.

Pereira Miguel - que não conhecia o estudo sobre os agentes infecciosos nos telemóveis, mas sabia de outros que indicam para a infecção nas batas e nos estetoscópios - confirmou que existe uma panóplia de veículos transmissores destes agentes.

«Há muitos veículos que, em ambiente hospitalar, podem ajudar os vírus e as bactérias a passarem de um lado para o outro, ou seja, dos profissionais para os doentes», disse.

Apesar de existirem «regras apertadas» para combate das infecções em meio hospitalar, Pereira Miguel reconhece que alguns profissionais não cuidam como deviam de veículos, como as batas.

«Alguns médicos usam as batas demasiadas vezes e já sem estarem limpas e até chegam a levá-las para as suas viaturas, o que é arriscado», afirmou Pereira Miguel.

O especialista em saúde pública reconheceu, no entanto, que podem existir vários factores para estes casos, nomeadamente a falta de condições para que os médicos mudem de bata tantas vezes quanto deviam.

O presidente do INSA defendeu, por isso, um investimento na modificação dos comportamentos e o reforço dos cuidados. «É preciso lutar contra a infecção hospitalar», realçou.
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