«Por que nos tiraram dali?» - TVI

«Por que nos tiraram dali?»

Risco de queda de edifícios em Odivelas (foto Hugo Beleza)

Moradores da Serra da Luz desalojados continuam a viver numa pensão «Obrigaram-nos a sair à força, prometeram-nos mundos e fundos e agora nada», queixam-se. Câmara procura «soluções duradouras» Ruas de reis num bairro de pobres Lisboa investe 200 milhões para evitar cheias

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Há duas semanas atrás, Fausto Gomes estava sentado na soleira de uma porta, no bairro da Serra da Luz, na Pontinha. Do outro lado da rua, a sua casa havia sido esvaziada de todos os seus haveres. O perigo de o seu prédio se desmoronar encosta abaixo era eminente . Na quinta-feira à noite o PortugalDiário encontrou-se com ele numa pensão em Lisboa, onde está com outras 15 famílias, que também tiveram que deixar as suas casas. Muitas delas queixam-se do facto de a sua situação ainda não ter sido resolvida. A Câmara de Odivelas diz que está a fazer o que pode.

Por uma viela afluente da rua das Janelas Verdes vislumbra-se a entrada da pensão Barca do Tejo. No pequeno hall, duas semanas depois do último encontro, o pedreiro de origem cabo-verdiana ainda se recorda do repórter. E lembra que também não esqueceu que lhe falaram na altura numa «nova casa», quando lhe disseram que tinha que sair da antiga.

Com quatro filhos menores - um deles com leucemia - sublinha que os 269 euros que pagava mensalmente de renda na casa onde vivia eram muito, mas suportáveis. Mais difícil de lidar de superar tem sido a sua situação actual, aponta Gisela, a esposa, que chega pouco depois com o pequeno Hélder, de cinco anos, pela mão. «Não queremos uma casa de graça, mas queremos uma casa».

«Mundos e fundos e agora nada»

O desejo é partilhado pelo grupo que se aglomera à porta da pensão. Lá dentro «não se pode falar», avisa a recepcionista. Cá fora, Marisa Saraiva e Mário Rui, um casal ainda jovem, Florêncio Aguiar e Maria Gomes, um casal mais velho, as amigas Alcinda Amorim, de 59 anos, e Maria Baptista, de 68, queixam-se a aprovam as palavras de Isabel Baleizão, de 40 anos. «Na terça-feira, disseram que a única solução era começar à procura de casa. Gostava era que me ajudassem a procurar uma casa mais barata, porque para cara já chega a que tinha», explica a última, dando conta da renda de 375 euros que pagava e do desemprego do companheiro.

Florêncio, que se estabeleceu na Serra da Luz «depois do 25 de Abril», aponta: «Falharam com a palavra e agora mandaram-nos arranjar casa». «Dizem que não as têm. Então porque é que nos tiraram dali?», questiona, garantindo ter assinado «um papel como não queria sair de lá». «Obrigaram-nos a sair à força, prometeram-nos mundos e fundos e nada».

Paulo Conceição chega depois. Vem do trabalho. Tem 27 anos. Trabalha «há um mês como repositor». Vivia numa das habitações em risco de ruir com os pais e a irmã. Não coloca em causa o trabalho dos peritos, que avalizou a decisão. Mas partilha a indignação dos vizinhos. «Tiram-nos ali e agora nós é que temos que nos desenrascar».

«As casas eram para ser demolidas mas ainda não foram. Já estão vandalizadas. Se me tirarem daqui não vejo mais sítio nenhuma solução senão voltar», confessa.

Câmara procura «soluções duradouras»

As queixas, apesar de se ressentirem com a Câmara de Odivelas, preocupam a autarquia. A garantia é dada pelo vereador José Esteves Ferreira, que explicou ao PortugalDiário que «foi decidido que a câmara iria apresentar uma candidatura especial no âmbito do programa Pró-Habita, para encontrar soluções mais duradouras através do mercado de arrendamento com apoio do IHRU (Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana)».

«O que terá sido dito às famílias foi que se algum destes agregados não quisesse esperar poderia procurar uma solução», apontou o responsável, comentado as queixas dos desalojados, que alegam que lhes foi dito para procurarem casa.

O autarca disse que na semana passada o levantamento das situações estaria concluído, para que no início desta possa ser enviada a candidatura para o IHRU. Depois disso, a resposta que os moradores estão à espera ficará pendente deste organismo. Enquanto isso, a pensão Barca do Mar fará as vezes da casa que não têm.
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