O interrogatório a José Sócrates no âmbito da Operação Marquês terminou esta segunda-feira. À saída do Tribunal Central de Instrução Criminal, em Lisboa, o antigo primeiro-ministro disse que estava "muito satisfeito" e que "não ficou pedra sobre pedra".
Estou muito satisfeito, foi tudo muito exaustivo", começou por dizer aos jornalistas.
O antigo primeiro-ministro afirmou que foi "repor a verdade".
Como vos disse à entrada, vim aqui com o espírito inicial repor a verdade e não ficou pedra sobre pedra nesta acusação", reiterou.
Sobre as viagens que fez, o ex-primeiro-ministro disse em tribunal que a sua mãe recebeu uma herança, tendo-lhe dado parte do dinheiro que gastou para viajar, afirmou à Lusa fonte ligada ao processo.
Segundo a mesma fonte, Sócrates justificou ao juiz Ivo Rosa, que a mãe tinha dinheiro porque nos anos 80 tinha recebido uma herança de um milhão de contos (cinco milhões de euros) e que lhe doou parte desse dinheiro, cerca de 10 mil euros, para cada uma das viagens de lazer que fez enquanto primeiro-ministro e posteriormente.
Sobre a casa que habitou em Paris, enquanto estudava e que o Ministério Público acredita ser sua propriedade, o ex-governante insiste em dizer que o imóvel é do seu amigo e também arguido Carlos Santos Silva e que nem sequer lhe deu conselhos sobre as obras de remodelação, contrariando a acusação.
Quanto aos empréstimos bancários que fez na Caixa Geral de Depósitos, Sócrates, indicou a fonte, referiu que fez um de 120 mil euros que lhe permitiu viver e estudar um ano em Paris e que as despesas do segundo ano foram suportadas com os mais de 400 mil euros que a mãe lhe deu depois da venda da casa na Rua Braamcamp, em Lisboa, a Carlos Santos Silva.
Os advogados e procuradores que estiveram no interrogatório do antigo primeiro-ministro deixaram os telemóveis e ‘ipad’ fora da sala de audiência a pedido do juiz Ivo Rosa.
Na semana passada, Ivo Rosa tinha-se mostrado incomodado com as fugas de informação da sala de audiências enquanto durava o interrogatório e chamou a atenção dos advogados, tendo referido que caso continuassem a passar informações proibiria a entrada de telemóveis no espaço.
À entrada do tribunal, pelas 13:30, José Sócrates insistiu em dizer que a acusação da Operação Marquês é "monstruosa, injusta e completamente absurda" e que mantém o estado de espírito do primeiro dia de interrogatório, na passada segunda-feira.
Nestes últimos dias José Sócrates foi ouvido durante quase 30 horas de interrogatório e negou sempre as acusações do Ministério Público.
Ainda este mês falta ouvir um arguido importante, Carlos Santos Silva, o empresário e amigo que alegadamente emprestava dinheiro ao antigo governante e lhe pagava contas.
A Operação Marquês teve início em julho de 2013 e culminou na acusação a 28 arguidos — 19 pessoas e nove empresas — a 11 de outubro de 2017 pela prática de 188 de crimes económico-financeiros, entre os quais corrupção e branqueamento de capitais.
Sócrates, que esteve preso preventivamente e em prisão domiciliária, está acusado de 31 crimes económico-financeiros. O antigo líder socialista foi acusado pelo Ministério Público da alegada prática de três crimes de corrupção passiva de titular de cargo político, 16 crimes de branqueamento de capitais, nove crimes de falsificação de documento e três crimes de fraude fiscal qualificada.