«Se nós poder-mos organisamos um jantar há noite» (se nós pudermos, organizamos um jantar à noite). A frase espelha alguns dos erros que os portugueses mais cometem quando escrevem na própria língua. O PortugalDiário falou com professores para saber como está a ser tratada a língua portuguesa.
Trocar os «z» pelos «s» em verbos como organizar e precisar, não saber a diferença entre «há» (do verbo haver) e «à» (contracção da preposição com o artigo) e colocar a pontuação aleatoriamente são alguns dos erros mais comuns, explicou o presidente da Associação dos Professores de Português (APP), Paulo Feytor Pinto.
O responsável afirma que «a conjugação de um verbo com um pronome causa quase sempre dúvidas e erros», como no caso das formas verbais «concede-se» e «concedesse».
Separar o sujeito do predicado por uma vírgula é outro dos erros comuns. Aliás, Paulo Feytor Pinto explica que «no que diz respeito a vírgulas normalmente ou há em excesso, ou não são suficientes».
Na acentuação, o problema é o mesmo: acentos a mais e falta de acentos. «Há uma palavra em que o erro é recorrente. Muitas pessoas escrevem proibido com acento no primeiro «i», talvez porque noutros tempos havia um «h» naquele sítio», explicou.
O que parece não faltar são as maiúsculas mal empregues. Segundo o responsável da (APP), um erro muito frequente é usar maiúsculas «por tudo e por nada». «Gostamos de animais, então escrevemos a palavra em maiúsculas, o mesmo com escola, casa...»
«Há» ou «à»: aqui a questão complica. Paulo Feytor Pinto explica que muitas pessoas, além de não saberem qual é a palavra que leva «h», ainda erram na acentuação.
Outro caso problemático é distinguir «por que» de «porque». «Por que» é sinónimo de «por qual razão» ou «pela qual» e «porque» surge quando é indicada a causa.
Manuela Duarte lecciona português no 6º ano e garante que os erros que encontra nos alunos são os mesmos que dão pessoas com formação superior.
Nas formas verbais, os maiores problemas são os verbos no imperfeito do conjuntivo e o futuro. Palavras como «pudesse» acabam por ser escritas como «pode-se» ou «poderão» que aparece como «poderam».
Segundo a docente, os alunos parecem não se preocupar muito com o facto de não saberem a grafia correcta das palavras. «Tanto escrevem bem como a seguir escrevem mal, não se importam com isso».
Ainda no domínio dos verbos, a diferença entre os tempos, que em alguns casos é marcada pela acentuação (andamos - presente ou andámos - pretérito perfeito), simplesmente não é tida em conta. A professora explica que neste caso, até na oralidade a diferença desapareceu, tirando nalgumas regiões do país. «Aqui no Norte acentuamos e marcamos bem esta diferença», explicou.
Como enganar a censura
Para Paulo Feytor Pinto, «os erros ortográficos são um problema superficial quando comparados com erros de pontuação e má construção frásica, porque um erro ortográfico não impede de perceber o sentido da comunicação», adiantou.
Como exemplo, o presidente da (APP) recorda como as particularidades da língua eram usadas para contornar a censura no antigo regime. A única anedota envolvendo Salazar que era permitida era precisamente um jogo de palavras que aparecia escrito nas paredes e onde a pontuação fazia toda a diferença: «Salazar pode morrer, não faz falta à nação» ou «Salazar pode morrer? Não! Faz falta à nação».
Por que não conhecemos a nossa língua
Paulo Feytor Pinto considera que o grande problema da língua portuguesa é que os que a falam só a respeitam em teoria. «Toda a gente diz que é preciso respeitar a língua e ficam chocadíssimos com os erros ortográficos, mas depois, na prática, dão erros e, quando são corrigidos por alguém, minimizam o assunto».
O responsável realça que os meios de comunicação e os professores de outras disciplinas, por escreverem muitas vezes com erros, ajudam a que as pessoas «interiorizem» palavras de forma incorrecta.
Conheça os erros dos portugueses
- Sara Marques
- 2 jun 2007, 10:26
Trocar os «z» pelos «s», não saber a diferença entre «há» e «à», pôr vírgulas a menos e maiúsculas a mais... assim se escreve em Portugal. Professores recordam que a escrever correctamente até é possível enganar a censura
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