Pesca: 90% aderem à greve - TVI

Pesca: 90% aderem à greve

  • Redação
  • Cecília Malheiro para Lusa
  • 27 mai 2008, 13:48
Foto: Cláudia Lima da Costa

Cerca de 90 por cento dos barcos algarvios, num total de cerca de mil embarcações, pensam em aderir à greve de sexta-feira

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No Algarve cerca de 90 por cento dos barcos, num total de cerca de mil embarcações no sector pesqueiro, pensam em aderir à greve de sexta-feira e estão a organizar uma deslocação para essa dia à porta do primeiro-ministro José Sócrates.

Na doca de Olhão, que a Lusa visitou esta terça-feira, a maioria dos armadores e pescadores chegavam cansados cerca das 11:00 depois de uma noite de faina. Na bagagem traziam redes vazias de peixe e centenas de euros de combustível gastos em vão.

Apenas uma minoria de traineiras capturaram cavalas, peixe que será aproveitado para fábricas de conservas e não para o mercado de peixe fresco.

«Neste momento está tudo mal. Este ministério quer acabar com a pesca», gritou o armador Horácio Rocha, 56 anos, depois de uma noite no mar onde gastou «622 euros de gasóleo» para trazer meia dúzia de toneladas de cavala.

Com o pescado que trouxe e que rendeu 1.150 euros conseguiu pagar o combustível (622 euros) e, como não teve nenhuma multa da fiscalização, vai conseguir ter 528 euros para distribuir, à percentagem, pela tripulação.

Paulo Rocha, 28 anos e filho do armador Horácio Rocha, desabafou que quando começou a ir ao mar, há nove anos, «ganhava mais do que agora».

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Como é que se vai comer peixe fresco nos próximos dias no Algarve, questionou a Lusa aos pescadores e carregadores que se encontravam na doca. A resposta foi categórica: «Pergunte ao senhor ministro!».

Outro pescador, que não se quis identificar, comentava à Lusa que o peixe fresco apregoado nos restaurantes ia continuar a ser fresco, mas que essa frescura resulta do processo de congelação.

A embarcação «Nova Senhora da Piedade de Olhão» não trouxe nenhum pescado esta manhã, embora tenha gasto cerca de 300 euros de combustível para andar ao mar.

«Hoje não ganhámos para comer e ainda ficamos endividados», admitia o mestre da embarcação, verdadeiramente transtornado com a crise da pesca.

Todos os armadores e pescadores foram unânimes em asseverar que iam fazer greve marcada para a próxima sexta-feira, à semelhança dos pescadores espanhóis no mesmo dia e a 6 de Junho em França.

A fiscalização exagerada das autoridades, as multas constantes, a crise no sector de há vários anos e o aumento dos combustíveis em mais de 20 vezes só este ano são as razões apontadas para a participação dos armadores e pescadores na greve.

«Podemos ir aos 90 por cento de adesão à greve», declarou à Lusa o vice-presidente da associação de Armadores de Pesca Artesanal do barlavento Algarvio, Carlos Silva.
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