Defesa de Bibi pede pena de cinco anos - TVI

Defesa de Bibi pede pena de cinco anos

Carlos Silvino, no banco dos réus, acompanhado de um guarda (Ilustrações de Hugo Martins, para Lusa)

José Maria Martins quer pena suspensa e, por isso, pediu aos juízes: «Não matem o rato»

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Actualizado às 20:03

José Maria Martins, advogado Carlos Silvino, afirmou esta terça-feira, nas alegações finais do processo Casa Pia, que o seu cliente devia ser condenado a «cinco anos de prisão» para que a pena possa ser depois suspensa na execução. O causídico pediu ainda uma condenação por «crime continuado» e invocou as atenuantes - confissão, arrependimento e colaboração - previstas na lei penal.

No final, dirigindo-se aos magistrados afirmou «penso que condenando o meu cliente à pena que sugeri farão justiça e condenando todos os outros arguidos, farão justiça total». Até porque, justificou, não pode ser apenas o «pé-rapado» a pagar.

«Nenhuma indemnização a pagar»

Defesa de Bibi «ataca» Carlos Cruz

Carlos Silvino deve ser «condenado por um único crime em relação a cada uma das vítimas, cujo abuso sexual confessou, porque é isso que determina a lei», declarou Maria Martins. Recorde-se que o Ministério Público deu como provados 167 crimes contra Bibi.

O advogado referiu e quase agradeceu, com ironia, «aquilo que o Governo do partido socialista mandou aplicar: um crime de forma continuada». Mas, em seguida, lembrou que esta alteração legislativa foi «feita à medida deste processo» e não era para proteger o seu cliente.

No entanto, «nem precisava desta alteração legislativa feita à pressa para abafar o processo», defendeu. Maria Martins exemplificou, depois, com um acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, que mesmo antes de a lei ser criada já tinha usado «o crime continuado» num caso de abusos sexuais.

Que pensará o povo?

O mandatário de Bibi defendeu ainda, durante as suas alegações, que «o povo aceitará melhor uma pena de cinco anos para Carlos Silvino do que a absolvição de Carlos Cruz». E insistiu ter ficado provado em tribunal a culpa de todos os arguidos, mesmo de Manuel Abrantes, que o seu cliente nunca incriminou directamente.

Para «aplicar sete/oito anos de prisão a Carlos Silvino é um acto inútil, pois o que lhe doeu foi ter que confessar todos os crimes e reviver o seu próprio drama», justificou.

Já no final da audiência, José Maria Martins explicou aos jornalistas que «as pessoas acreditam que todos os arguidos são culpados e não aceitariam que fosse sempre o "pé-rapado", o desgraçado, a levar a punição, como é normal destas sociedades medievais do Sul da Europa, em que os caciques e os senhores poderosos manobram sempre a seu belo prazer a justiça».

As atenuantes

O mandatário de Bibi, salientou por diversas vezes, nas suas alegações finais, que para Carlos Silvino «abusar dos miúdos era normal, quase maquinal. Ele próprio foi abusado e o seu horizonte físico, ético e moral é de abusos».

Em seguida, lembrou os juízes que o seu cliente «confessou, pediu desculpa e arrependeu-se», atenuantes previstas no Código de Processo Penal.

Depois apontou baterias ao Ministério Público, exigindo que este «cumpra o acordo feito de forma directa e através da Polícia Judiciária» com Carlos Silvino. «Não tenho culpa que o magistrado aqui seja outro», justificou.

Ressalvou, no entanto, que apenas foi pedido a Bibi «que falasse a verdade e não que incriminasse pessoas». Essa colaboração «teria benefícios», segundo o que foi prometido ao seu cliente.

«Não matem o rato»

Para José Maria Martins o tribunal pode seguir dois caminhos quanto à pena de Carlos Silvino: «Ou o tribunal lhe dá 25 anos de prisão e mata o rato ou o deixa viver».

E, para justificar o termo «rato», lembrou um conto de Miguel Torga onde um destes animais é deixado com vida pelos personagens intervenientes. E voltou a insistir: «não matem o rato».
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