Cavaco conversa com cego via MSN

A experiência de «reclusão» do cego Fernando Santos, de 35 anos, que acaba amanhã uma jornada de 10 dias a testar os serviços da Internet para retratar o grau de info-inclusão dos invisuais, serviu de mote para um chat, esta quinta-feira, com o Presidente da República, Cavaco Silva.

Cavaco Silva serviu-se do sistema de voz e microfone para questionar Fernando sobre as dificuldades da experiência pioneira em Portugal. O invisual reconheceu que «houve algumas dificuldades que foram sendo ultrapassadas em um ou dois sites de serviços» nos quais não foi possível realizar o seu objectivo final.

O técnico de informática submeteu-se a vários dias fechado num hotel a partir do qual requisitava todos os serviços básicos via online, como encomendar refeições e fazer compras.

Cegos têm receio de transacções financeiras online

As potencialidades das tecnologias da informação no dia-a-dia dos cegos preocupam o Presidente que questionou Fernando sobre a forma como estas são encaradas pela comunidade invisual no nosso país.

Apesar de admitir que ainda «se olha com algum receio» para a questão das novas tecnologias, Fernando confessa que é na área das compras e transacções financeiras que existe maior reserva da parte dos invisuais. «Há ainda muito a fazer e esclarecer neste sentido», referiu. No entanto, Fernando salientou que o acesso à informação está a caminhar no bom sentido. «É mais fácil aceder à informação do que há um ano atrás por exemplo», frisou.

Mas se para o invisual as dificuldades da Internet não pareceram grande entrave para a sua «vida online», o conhecimento como técnico de informática permitiu facilitar-lhe ainda mais o acesso. «Com muita dedicação e empenho é que consegui especializar-me nesta área», contou ao Presidente da República.

Rato e ecrã acrescentam dificuldades

As dificuldades na formação profissional fizeram com que Cavaco Silva fosse mais longe questionando Fernando sobre as falhas existentes no ensino escolar formal dos invisuais no campo da informática.

Os conceitos informáticos e a própria conjugação do rato com o conteúdo do ecrã, como os links, são as questões que mais trazem problemas «para quem o mundo da Internet é completamente abstracto», explicou o invisual.

Para Fernando, que faz parte do corpo técnico da Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAP) é importante realçar o balanço «positivo» da experiência, que espera, «melhore em termos práticos a vida da comunidade invisual», acrescentando que a ACAP vai lançarem breve um novo site para melhorar o acesso dos cegos às tecnologias da informação.