Agente da PSP admite ter confiado arma a alegado mafioso - TVI

Agente da PSP admite ter confiado arma a alegado mafioso

Sala de audiências

Elemento do Corpo de Intervenção considerava suposto cabecilha da «máfia do Vale do Sousa» uma pessoa idónea

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Um dos dois agentes da PSP arguidos no processo que está a julgar a chamada «máfia do Vale do Sousa» confessou, nesta segunda-feira, ter confiado a guarda de uma pistola semiautomática a um dos cabecilhas do grupo.

Ricardo Aguiar, elemento do corpo de intervenção da PSP, em Lisboa, esclareceu o tribunal, segundo a Lusa, que a referida arma, de nove milímetros, era pessoal e nada tinha a ver com a sua atividade policial.

Garantiu, por outro lado, que quando confiou a pistola ao agora arguido António José, conhecido no processo como «Tó Zé», desconhecia os factos de que estão acusados os elementos da designada «máfia do Vale do Sousa».

«Para mim era uma pessoa idónea», disse à juíza Luísa Ferreira.

Aquela pistola semiautomática foi encontrada na casa do arguido Tó Zé, em Penafiel, quando a PJ realizou buscas domiciliárias.

Questionado sobre a razão pela qual entregou a arma a Tó Zé, o agente policial explicou que, por motivos profissionais, estava naquela altura a mudar de residência do Porto para Lisboa. Por isso, alegou, era mais seguro, por alguns dias, guardar a arma num cofre, na casa de um amigo.

Ricardo Aguiar disse que conhecia Tó Zé há alguns anos, com quem praticara desporto e a quem prestara serviços de segurança privada quando ainda não era agente da PSP.

O arguido, que responde neste processo por um crime de tráfico e mediação de armas, argumentou em tribunal não ter pensado ser ilegal uma pistola com aquele calibre estar à guarda de cidadãos que não pertençam a forças policiais ou militarizadas.

Os 44 arguidos deste processo estão acusados pelo Ministério Público de 142 crimes, 20 dos quais de associação criminosa.

Segundo a acusação, os elementos da «Máfia do Vale do Sousa» obrigavam os donos de cafés, bares e discotecas de Penafiel, Paços de Ferreira, Lousada e Marco de Canaveses a pagar avultadas quantias de dinheiro pela segurança dos estabelecimentos

Nesta segunda sessão de julgamento, depôs ainda o arguido Eduardo Oliveira, conhecido em Penafiel pela alcunha de «Eduardo Ratinho», que responde por crimes de tráfico de armas, extorsão e associação criminosa.

O arguido começou por negar estar envolvido no grupo dos «peixeiros», acusado de vários crimes de extorsão junto de proprietários de estabelecimentos noturnos do Vale do Sousa.

«Eu não lido com este tipo de gente», afirmou.

Ao tribunal garantiu nunca ter participado em desacatos e agressões, nem ter combinado com outros arguidos a repartição de lucros da atividade.

Também negou ter realizado chamadas telefónicas com alguns dos arguidos, que indiciavam comportamentos ligados à extorsão.

Contudo, ao ser confrontado pelo coletivo com transcrições de escutas telefónicas realizadas pela PJ, procurou explicar algumas das conversas com motivações de caráter profissional ligadas, sustentou, ao comércio de peixe.

Aparentemente, as justificações não terão convencido o coletivo, que insistiu demoradamente no pedido de esclarecimentos.

O arguido alegou então que algumas das coisas que possa ter dito ao telefone, registadas quase sempre depois da meia-noite, só aconteceram porque estaria provavelmente embriagado.

O arguido Marinho Pinto, que tinha, na primeira sessão, manifestado vontade de falar, disse ao tribunal já não o pretender fazer.

Na próxima sessão, marcada para quarta-feira, deverá ser ouvido Jorge Brito, o último dos arguidos que disse pretender prestar declarações.

O julgamento, já com várias sessões agendadas e sob forte medidas de segurança, prosseguirá com a audição das primeiras testemunhas de acusação.
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