Casar por 600 contos para ajudar ilegais - TVI

Casar por 600 contos para ajudar ilegais

Incognito ONI

REPORTAGEM: Negócio à mão de semear nos subúrbios de Lisboa. PDiário falou com «falsas» esposas

Susana (nome fictício) casou com um imigrante ilegal por 500 contos. O namorado dela casou com uma imigrante pelo mesmo preço. Já a Andreia (nome fictício) recebeu 680 contos por passar a ser esposa de um homem que conheceu três dias antes. «Ganhámos dinheiro e ajudámos os imigrantes que precisam», respondeu Andreia ao PortugalDiário sobre o porquê de se meter neste negócio ilícito.

Tanto a Susana, de 21 anos, como a Andreia, de 38, sabem que estão a cometer o crime de auxílio à permanência ilegal de um imigrante. Mas também sabem que é muito difícil provar o ilícito.

«Como é que eles sabem que não é por amor? Nós até demos beijinhos! O meu falso marido chegou a enviar-me um postal de Natal», ironizou Sandra. Esta esposa fictícia casou com toda a pompa e circunstância. Com fotografias e tudo. Foi o namorado verdadeiro da Sandra que tirou as fotografias no casamento fictício da namorada.

Esta esposa fictícia foi abordada para casar com um imigrante ilegal em Fevereiro do ano passado, mas só lhe ofereceram 250 contos. Pareceu-lhe pouco e nessa altura não estava «à rasca» de dinheiro. Uns meses depois surgiu outra oportunidade. Ofereciam o dobro e, como estava a precisar de dinheiro, não hesitou. Actualmente é casada com um nigeriano. Mas já teve ofertas para dar o nó com um romeno, amigo de uma amiga, e para ir para a Holanda casar com um curdo. Considera-o dinheiro limpo, porque não está a prejudicar ninguém.

E aconselha o negócio a todos os que precisarem de uns trocos: «Casamos por dinheiro, mas até tenho amigas que se apaixonaram por eles e estão grávidas!», rematou. Insistiu que na Damaia e na Amadora é um negócio disponível a todos os que estiverem interessados.

Andreia foi casar a Inglaterra. Para além dos 680 contos limpos, recebeu um vestido de noiva à borla e dinheiro para fazer compras em Londres. Quando chegou ao aeroporto de Gatwick, em Julho, já tinha a documentação falsa à espera dela que atestava que vivia e trabalhava na capital inglesa. Com uma nova conta bancária, um novo número de segurança social e um emprego fictício num lar de idosos da região, foi a uma conservatória em Londres. Mal conhecia o marido, mas, segundo a Andreia, convenceram as autoridades inglesas. «O oficial fez algumas perguntas sobre como nos tínhamos conhecido, mas foram poucas», adiantou.

Quando o PortugalDiário lhe perguntou se treinaram antes de casar, para o enlace parecer mais realista, Andreia disse que não. «Ele só decorou o meu nome e deu-me um beijo na testa depois de assinarmos a papelada», acrescentou.

Em Portugal, não se efectua qualquer tipo de interrogatório para comprovar se o casal está a utilizar o contrato de casamento para fins fraudulentos. «Casa-se com alguma facilidade. Não vamos investigar se as pessoas se conhecem ou não. A lei não prevê um controlo desse género», explicou um assessor do Ministério da Justiça ao PortugalDiário.

Apesar do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras «não considerar conveniente falar com o PortugalDiário sobre casamentos fictícios nesta altura», o chefe do departamento de Investigação, Joaquim Pedro Oliveira confirmou que estes negócios estão a ser investigados. No entanto, o SEF admite que são casos difíceis de provar. Uma das formas que as autoridades encontram para desmascarar este tipo de situações é por via da falsificação de documentos.

Mas Andreia não tem medo que lhe venha um inspector bater à porta. Até porque não conhece ninguém que tenha sido apanhado. «Não acredito que os portugueses que se metem nisto por dinheiro sejam mal tratados. Eu fui muito bem tratada. Ainda podia ter pedido mais dinheiro ao meu marido, mas também sei que trabalha muito para conseguir viver legalmente na Europa», rematou. Nem sequer pensa em divorciar-se!
Continue a ler esta notícia