Do gueto para o sorriso

«Na Cova da Moura/há cânticos que dizem vidas duras/há ecos de crioulo pelas ruas/há sorrisos mãos e dignidade» (Gisela Ramos Rosa, 04 12 04)

Essa dignidade nasce na vontade e na alma de muitos, que não cessam na luta por uma dignificação real do bairro, que continua a transportar uma fama de delinquência. Falar em Cova da Mora já não é apenas falar em degradação, medo ou crime. É também falar em bons exemplos.

A outra Cova, como é retratado na reportagem do PD «Vir(v)er a Cova da Moura», consegue ser imaginativa, atraente, vencedora, aproveitando o vento de esperança para fazer mover o «Moinho da Juventude», exemplo vivo do altruísmo necessário, de uma causa real que serve para recordar a possibilidade de ajudar causas perdidas, de as tornar viáveis.

Existe uma outra vida para além das ruas escusas, da construção clandestina, da falta de ordenamento. Há música, ritmo, arte, culinária, cultura, livros, computadores e até visitas guiadas, tudo proporcionado por uma associação sem fins lucrativos, estabelecida no bairro há 22 anos.

Numa sociedade cada vez mais egoísta, que sente dificuldade em olhar para os menos afortunados, é importante reflectir sobre o trabalho do «Moinho da Juventude» ou, numa dimensão diferente, de Carlinhos Brown no bairro do Candeal, na Bahia. Simplesmente porque conseguiram transformar o gueto (ou parte dele) num sorriso.