Bairros perigosos deviam ter «polícias da cidade» - TVI

Bairros perigosos deviam ter «polícias da cidade»

Patrulha da PSP na baixa de Lisboa (Foto Cláudia Lima da Costa)

Muitas vezes são agentes do Norte do país que patrulham os bairros problemáticos da capital

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A «deslocação» de polícias das suas terras para as grandes cidades é um dos problemas que a Polícia de Segurança Pública enfrenta nos dias de hoje. É também um factor desmotivante para as forças de segurança e por vezes condicionante da actividade policial, nomeadamente, quando são estes polícias que fazem patrulhas em bairros perigosos.

Estas são algumas das temáticas abordadas no livro da antropóloga, Susana Durão, «Patrulha e Proximidade - Uma Etnografia da Polícia em Lisboa», apresentado esta quinta-feira, em Lisboa, e que contou com a presença do ministro da Administração Interna, Rui Pereira, e com o director Nacional da PSP, Orlando Pereira.

Polícias sem medo

«A experiência de deslocação dos agentes de segurança é talvez maior do que em qualquer outra profissão em Portugal», declarou a autora do prefácio da obra, Manuela Ivone Cunha, da Universidade do Minho. Já a autora, Susana Durão, salientou o «ambiente estranho» com que os agentes, «na maioria do Norte e interior do país», se deparam ao chegar às cidades.

A autora acompanhou vários turnos e patrulhas de agentes e realça que nunca sentiu que os agentes tivessem medo ao entrar em bairros perigosos, no entanto, havia, «por vezes, estranheza ao patrulhar bairros desconhecidos e de ambiente urbano». Susana Durão sugere mesmo que as hierarquias policiais deveriam «mandar para os bairros polícias que os conheçam bem».

Salários não são o mais importante

Outra realidade detectada pela autora é a dificuldade de comunicação entre agentes e chefias. «Há questões a trabalhar no campo da comunicação». Por outro lado, a antropóloga destaca a «capacidade reflexiva» de muitos agentes com quem contactou, nomeadamente, dando sugestões válidas sobre a estrutura organizativa da PSP. Questões que muitas vezes são mais importantes do que as de ordem salarial.

«Nem sempre são as questões salariais que mais são salientadas. É uma questão importante porque se tem duas casas para sustentar e uma família longe», explica, realçando que não progressão nas carreiras é igualmente desmotivante.

O ministro da Administração Interna, presente no lançamento, começou por referir que ainda não leu a obra, mas «vai ler». «Este livro pode ajudar a polícia a olhar para si própria e também me ajuda a mim como ministro a melhor dirigir».

Rui Pereira destacou ainda que muitas vezes «esquecemo-nos que há seres humanos atrás dos polícias. Os polícias usam a força em nome do Estado e aí é necessário que percam a identidade, mas atrás de um polícia há um cidadão».
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