Venezuela: um ano depois o co-piloto continua detido - TVI

Venezuela: um ano depois o co-piloto continua detido

  • Portugal Diário
  • 23 out 2005, 16:37
Tripulação garante ter denunciado a situação

Luís Santos sente-se «injustiçado». Julgamento vai ser retomado no próximo dia 27 e o co-piloto espera que «as coisas começam a andar normalmente». Na próxima segunda-feira faz um ano que a tripulação denunciou às autoridades um carregamento de cocaína que teriam Portugal como destino

Um ano depois de ter sido detido na Venezuela por suspeita de tráfico droga, o co-piloto português Luís Santos sente-se «injustiçado» e apenas tem como ambição provar a sua inocência em tribunal.

Para tal, deseja que o julgamento, adiado 20 vezes, se realize o «mais depressa possível» e que terminem os sucessivos adiamentos, desabafa o português que está detido na Venezuela desde 24 de Outubro de 2004.

Em prisão domiciliária desde Dezembro, depois de um período de dois meses numa cadeia local, Luís Santos faz parte de um grupo de dez pessoas (três passageiras portuguesas e seis venezuelanos) acusados pelo Ministério Público venezuelano de tráfico de estupefacientes.

Foi a própria tripulação do avião que encontrou no aparelho e denunciou às autoridades um carregamento de quase 400 quilos de cocaína que teriam Portugal como destino.

O processo envolvia ainda o piloto e a hospedeira da aeronave, que foram libertados nos primeiros dias de Novembro de 2004.

As três passageiras continuam presas numa cadeia da Venezuela.

O julgamento dos quatro portugueses e dos seis venezuelanos, começou a 9 de Dezembro do ano passado e já foi adiado 20 vezes. Ausência de advogados de defesa, mudança de juízes e as más condições atmosféricas foram alguns dos motivos que contribuíram para os adiamentos.

Em entrevista à Agência Lusa, Luís Santos manifestou-se esperançoso e confiante na realização do julgamento para mostrar a sua inocência.

«A minha expectativa é positiva. Tenho esperança que no dia 27 - próxima data do início do julgamento - as coisas começam a andar normalmente», disse Luís Santos.

O sentimento de «esperança» e «confiança» do co-piloto surgiu após a conversa que o presidente da República, Jorge Sampaio, manteve com o seu homólogo da Venezuela, Hugo Chávez, à margem da Cimeira Ibero-Americana que se realizou em Salamanca a 14 e 15 de Outubro.

Nesta reunião também participaram o primeiro-ministro português, José Sócrates, e os ministros dos Negócios Estrangeiros dos dois países, Freitas do Amaral e Ali Rodríguez Araque.

Também foi durante a Cimeira Ibero-Americana que Hugo Chávez falou pela primeira vez dos quatros portugueses, tendo referido que os atrasos no julgamento se devem a questões processuais e que apenas conheceu o caso através da conversa que manteve com Sampaio.

Hugo Chávez disse ainda que os adiamentos acontecem «não por causa do Governo», mas sim apenas «por questões processuais».

Ao longo de um ano foram várias as diligências efectuadas pelo Governo, Procurador-Geral da República, família, Associação dos Pilotos Portugueses de Linha Aérea (APPLA), Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC) e a Organização Ibero-Americana de Pilotos, que chegou a ameaçar boicotar algumas ligações aéreas.

Para Luís Santos, foram as manifestações de apoio e de solidariedade realizadas pelos familiares, amigos e colegas de profissão que lhe deram «ânimo e força para suportar todas as injustiças».

Contactada pela Agência Lusa, a advogada de Luís Santos, a venezuelana Dora Castillo, afirmou que o Ministério Público (MP) «deveria ter actuado de uma maneira mais diligente» e ter feito «uma grande investigação para chegar à raiz do problema».

A advogada questionou o motivo pelo qual o co-piloto continua detido, quando os restantes membros da tripulação já foram libertados.

«Não há explicação para a sua detenção, é um acto injusto. Pela lei da aeronáutica e no pior dos cenários, o responsável por tudo o que aconteceu, é o comandante e não do co-piloto», adiantou.

Durante o último ano, muitas críticas têm sido feitas à justiça venezuelana por parte de Portugal que o embaixador da Venezuela em Portugal respondeu com uma carta enviada, na semana passada ao Diário de Notícias.

Manuel Quijada lembra que em Portugal «estão presos por tráfico de droga 120 venezuelanos em Lisboa, Funchal e no Porto». Serviços prisionais referem apenas 112.
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