Cirurgia cardíaca pediátrica está em risco - TVI

Cirurgia cardíaca pediátrica está em risco

Cirurgiões mais novos não têm experiência para casos mais complexos, alerta comissão

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A Comissão Nacional de Saúde Materna, da Criança e do Adolescente alerta que não está assegurada a continuidade da cirurgia cardíaca pediátrica nalguns centros hospitalares e que a sua manutenção a médio prazo pode mesmo estar em risco.

«Os cirurgiões cardíacos congénitos mais experientes e autónomos no nosso país têm mais de 50 anos e em alguns casos mais de 60», sustenta a comissão, lembrando que a quase totalidade dos cirurgiões mais novos em qualquer dos centros «não tem presentemente experiência e autonomia para realizar casos mais complexos, nomeadamente cirurgia neonatal».

E a maioria dos Centros de Cirurgia Cardíaca Pediátrica tem o seu movimento mais complexo assegurado praticamente por um único cirurgião. A comissão sublinha, ainda, que, dentro de alguns anos, os quatro Centros Públicos estarão, mesmo que não haja encerramentos intempestivos, reduzidos a um máximo de dois.

«Se ficar apenas um, corremos o risco de reproduzir na Cirurgia Pediátrica o que aconteceu recentemente na área dos transplantes hepáticos pediátricos», avisa.

Recordando que em Portugal o modelo atual «dificilmente conseguirá permitir que se alcance uma experiência adequada», a comissão considera benéfica a inserção destas unidades em centros de grande volume, operando simultaneamente adultos.

«No que diz respeito aos centros médico-cirúrgicos, e de acordo com os modelos adotados em outros países, serão idealmente necessários apenas dois grandes centros a nível nacional», cada um deles com pelo menos quatro cirurgiões cardíacos a operar patologia congénita e efetuando anualmente, cada um, pelo menos 100 cirurgias, o que se traduz em cerca de 400 cirurgias anuais por centro.

A proposta da comissão adianta, também, que a análise detalhada da atividade realizada a nível nacional parece demonstrar que a oferta de cirurgia pediátrica se encontra ainda «abaixo da procura existente nos Hospitais Públicos».

Realça igualmente que deve existir um Serviço Especializado de Cirurgia Pediátrica para uma população de 300.000 a 400.000 crianças e adolescentes, correspondendo aproximadamente a uma população de 1.500.000 habitantes.

«No contexto atual nacional, recomenda‐se um mínimo de quatro cardiologistas pediátricos por um milhão de habitantes», indica a proposta, citada pela Lusa.

O documento refere que as regiões Norte, Centro e Lisboa e Vale do Tejo deverão ter um serviço de cardiologia pediátrica diferenciado por região, «capaz de assegurar todas as valências da especialidade e localizado num dos hospitais com Serviço de Pediatria».

Sublinha que, à semelhança do que ocorre na Região Autónoma da Madeira, também a Região Autónoma dos Açores deverá ter, pelo menos, um especialista de Cardiologia Pediátrica.

Na área da Pediatria, a comissão considera que é suficiente a existência de duas a três Unidades Diferenciadas em todo o País para cada subespecialidade da pediatria.

Segundo a proposta, consideram-se Unidades Diferenciadas as altamente especializadas e que concentram as patologias mais complexas (incluem diagnósticos raros, situações severas ou intratáveis, procedimentos pouco frequentes, patologia em lactentes que precisam de apoio multidisciplinar) de uma ou várias regiões.

«Atendendo à nossa realidade, de um envelhecimento progressivo e de uma crescente redução da natalidade, da rede de comunicações inter-hospitalares e da referida necessidade de concentração de experiência e recursos, é de admitir como suficiente a existência de duas a três unidades diferenciadas em todo o País, para cada área subespecializada ou diferenciada da pediatria».
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