Dalai Lama: «Esta não é uma visita política» - TVI

Dalai Lama: «Esta não é uma visita política»

Dalai Lama (Lusa)

Dalai Lama desvalorizou polémica sobre recusa do Governo português em recebê-lo. Líder espiritual do Tibete disse que não pretende criar «embaraços». Na sua mensagem, apelou à paz, pediu uma «autonomia» tibetana autêntica» e sugeriu o diálogo com Bin Laden. Leia também a reportagem «Uma mensagem universal»

O 14º Dalai Lama já está em Lisboa para vários dias de visita cujo objectivo é, segundo explicou, a promoção de «valores humanos e da harmonia religiosa». Dias antes da sua vinda, instalou-se a polémica, por não ser recebido pelo Governo português. Na primeira conferência de imprensa dada em Lisboa, o líder espiritual tibetano e Prémio Nobel da Paz desfez qualquer controvérsia: «Esta não uma visita política». , Tenzin Gyatso falou ainda no desejo de uma «autonomia genuína» do Tibete, do drama de Darfur e sugeriu o diálogo com Bin Laden.

Para aquele que é para muitos um símbolo de paz e concórdia, o facto de não ter honras de Estado é vista «sem problemas». «Onde vou, não quero criar embaraços», explicou. «Quero promover os valores humanos e a harmonia religiosa. E os governos em relação a isto podem fazer muito pouco», frisou.

Não deixando qualquer dúvida sobre a sua posição, o Dalai Lama explicou o assunto aos jornalistas que esperavam por ele num hotel da capital e a um grupo de convidados entre os quais se encontravam o socialista Vera Jardim, o frade dominicano Frei Bento Domingues, o líder da comunidade islâmica portuguesa, Abdool Karim Vakil, o ex-presidente da Câmara de Lisboa, Carmona Rodrigues, e o realizador Manoel de Oliveira. «A minha visita não tem nada a ver com o Governo. Esta não é uma visita política», esclareceu.

O desejo de uma «autonomia genuína»

Com um humor contagiante, Tenzin Gyatso acolheu de forma descontraída, durante cerca de 40 minutos, as questões dos jornalistas. Segundo explicou, as suas visitas por todo o globo - que o tornaram um ícone político do Tibete -, têm uma finalidade espiritual. «Depois, depois sei lá...», atirou para o registo dos repórteres, antes de uma gargalhada.

A insistência em falar no problema político do Tibete - do qual se encontra exilado desde 1959 depois da invasão chinesa - veio da assembleia. «Não estamos a pedir a independência, mas uma autonomia genuína, tal como prevê a constituição da China», esclareceu, apontando que a sua terra natal vive uma situação única sob o regime de Pequim pois este, referiu, não «contempla os direitos de 6 milhões de tibetanos».

Tenzin Gyatso disse que o move a missão de inverter a ameaça à cultura milenar do território, à sua língua, à sua espiritualidade e até ao seu meio ambiente. Realçou que os tibetanos se tornaram uma «minoria» na sua terra, devido a uma política de colonização chinesa. «A minoria tibetana no seu dia-a-dia tem que falar chinês, porque a língua oficial é chinesa», frisou, apontando que o budismo é encarado como uma «ameaça separatista».

O crescimento económico chinês, reconhece, fez desaparecer a «fome». Mas a pressão economicista está também na origem da «desflorestação» do território e a afectar os seus ecossistemas.

Diálogo com Bin Laden

Num apelo pouco vulgar, Dalai Lama pediu que o diálogo relativamente à paz mundial seja levado às últimas consequências, inclusivamente com grupos terroristas. O líder espiritual chegou mesmo a nomear um nome «proibido» na diplomacia: «Bin Laden». «Encontrem-se com ele, ouçam as suas queixas, as suas razões. Se houver de alguma forma um compromisso, muito bem. Se não, pelo menos é melhor entender qual o seu ponto de vista». Para o Prémio Nobel da Paz de 1989, a «não-violência não significa descompromisso, mas compromisso total».

O tema do Darfur - introduzido por um jornalista - deu o mote para uma denúncia: «É uma grande tragédia a que estamos a assistir», disse o Dalai Lama, apontando o dedo à falta de empenho dos governos mundiais para a resolver. «Penso que as ONG podem fazer mais do que os governantes», defendeu, recordando a mobilização internacional para assistir as vítimas do tsunami do Índico, em 2004.



Tenzin Gyatso quis ainda deixar uma mensagem em defesa da «desmilitarização» como a única forma de garantir a paz de forma sustentada a nível mundial. «Uma bala não serve para comer, mas para matar».
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