#Viagemdefinalistas: os filhos já não escondem dos pais o que fazem - "nem sequer estão preocupados com isso" - TVI

#Viagemdefinalistas: os filhos já não escondem dos pais o que fazem - "nem sequer estão preocupados com isso"

  • CNN Portugal
  • MCP
  • 30 abr 2023, 11:00
Bar diversão noturna discoteca [créditos: Getty Images]

Escrevendo 'Viagem de Finalistas' no motor de busca do Tiktok não faltam vídeos de jovens a exibir cada minuto da sua semana de folia. Perdeu-se o receio das consequências

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O que se passa na viagem de finalistas fica na viagem de finalistas: é uma frase típica que se ouve e que serve de lema para milhares de jovens que todos os anos partem para destinos como Punta Umbria, Marina D'or ou Gandia, em Espanha, em busca de festa, adrenalina, novas experiências e álcool. Mas se noutras alturas era possível respeitar esse código de conduta, hoje é bastante difícil. Nada fica por ali.

O Tiktok tornou-se o Big Brother dos mais jovens. A exposição a que os próprios utilizadores se sujeitam é, aliás, vista como comum e desejada - “cada vez mais jovens têm necessidade de mostrar ao mundo aquilo que fazem, seja para a validação social ou estatuto - ao mostrar que estão lá e são populares e fazem coisas que outros gostavam de estar a fazer -, seja também para chocar e assumir que têm comportamentos de risco, o que acreditam que os torna mais populares”, começa por dizer a psicóloga clínica e coordenadora do Instituto de Apoio à Criança Melanie Tavares.

A maior exposição da vida privada, que para a psicóloga pode ser prejudicial - até porque “naquele contexto não estão apenas a expor-se a si, muitas vezes também estão a expor outros, então é uma invasão de privacidade”  -, tornou-se indiferenciada entre conteúdos considerados “inocentes” e “de risco”. 

Escrevendo 'Viagem de Finalistas' no motor de busca do Tiktok não faltam vídeos de jovens a exibir cada minuto do seu dia. Muitos dos momentos gravados são comportamentos que noutras alturas se escondiam dos pais - um rapaz a segurar em dezenas de copos empilhados junto dos seus amigos, com um deles a dar uma pancada para que a fila de copos se desequilibre e acabe espalhada pelo chão; um grupo de jovens dentro da mesma banheira; dezenas de pessoas reunidas no mesmo quarto de hotel a fazer uma festa à noite, ignorando a probabilidade de pagar caução pelos estragos; confrontos e até exibição da quantidade de garrafas de álcool deixadas pelo quarto. Perdeu-se o receio das consequências.

“A adolescência é uma fase em que se gosta de estar constantemente a testar o limite e agora com as redes sociais fazem questão de expor isso. Muitas vezes sem censura e sem sequer estarem preocupados, já nem escondem muito. Essa falta de regras pode ser um reflexo dos estilos parentais cada vez mais permissivos que lhes dão esta falta de medo das consequências”, reflete a psicóloga.

Para Melanie Tavares, “a adolescência é isto: quebrar as regras e ver até onde se pode ir”. Mas há formas de os pais poderem intervir de forma saudável e evitar que os os comportamentos passem “rapidamente do risco para o perigo e ponham em causa a integridade física ou saúde mental” do jovem: “Devem estar atentos”.

“Os pais devem sempre traçar limites na educação dos filhos e isso não implica que os proíbam de fazer as coisas - existem limites dentro do razoável e dentro do seguro. Às vezes, através de um conteúdo publicado pelo filho, também é possível detetar como anda o jovem, se alguma coisa está mal ou numa situação limite, mas a intervenção deve começar muito antes, tem que ver com a forma como educamos e como falamos sobre assuntos que possam pesar nas escolhas conscientes e riscos que podem correr. Mas isto é um trabalho que tem de ser feito antes, aos bocadinhos.”

Júlio França, psicólogo clínico da saúde e educação, da Ordem dos Psicólogos, corrobora: “Este tipo de conversa já tem de ter um histórico, deve ser trabalhado ao longo do tempo”. E não tem nada que ver com idades. Na opinião do psicólogo, ainda que estes jovens já estejam quase na idade adulta, “há necessidade que os pais tenham algum controlo relativamente ao que os filhos fazem e aos contextos que frequentam".

Desde ir ligando para saber como estão ou se precisam de alguma coisa, saber com quem estão, ter os contactos de amigos mais próximos, até alertar antecipadamente sobre os excessos e relações sexuais protegidas - “é um controlo mas que não tem de ser necessariamente intrusivo para o jovem”, diz o psicólogo. “Tem de existir uma relação de confiança familiar, não podemos ter a ilusão de que uma família que não tenha uma relação de liberdade, confiança e autonomia com o jovem consiga alterar as coisas antes de uma partida para uma viagem de finalistas.”

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