"As condições aqui são melhores. Só há um problema - o clima é mau": Navalny sorri na primeira aparição a partir da prisão no Ártico - TVI

"As condições aqui são melhores. Só há um problema - o clima é mau": Navalny sorri na primeira aparição a partir da prisão no Ártico

  • Agência Lusa
  • BCE
  • 10 jan, 19:51

É a primeira vez que Navalny é visto desde que foi noticiado o seu desaparecimento e se soube que fora transferido para aquele estabelecimento prisional remoto.

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O líder da oposição russa encarcerado Alexei Navalny apareceu esta quarta-feira num vídeo em tribunal a sorrir e a gracejar, a partir da colónia penal no Ártico onde está a cumprir uma pena de 19 anos de prisão.

As agências noticiosas russas divulgaram imagens de Navalny, de roupa prisional preta e cabelo rapado, numa transmissão televisiva em direto da colónia penal de “regime especial” na cidade de Kharp, na região de Yamalo-Nenets, cerca de 1.900 quilómetros a nordeste de Moscovo.

Na audiência, Navalny gracejou sobre o clima do Ártico e perguntou se os responsáveis da anterior prisão onde estivera tinham dado uma festa quando ele foi transferido.

O vídeo foi transmitido numa audiência realizada num tribunal a centenas de quilómetros de distância, na cidade de Kovrov, na região central de Vladimir, a cerca de 240 quilómetros a leste de Moscovo, perto da Colónia Penal N.º 6, onde Navalny esteve encarcerado até ao mês passado.

A audiência foi para um dos muitos processos que Navalny interpôs contra a colónia penal - este em particular prendia-se com uma das suas estadas numa “cela de castigo”.

Nas imagens de vídeo e nas notícias da comunicação social sobre a audiência, Navalny, de 47 anos, falou no seu habitual tom sardónico sobre as saudades que tinha dos guardas da sua antiga prisão e dos funcionários do tribunal de Kovrov, e gracejou sobre a inóspita prisão no extremo norte da Rússia.

“As condições aqui [na colónia penal de Kharp] - e dirijo-me a vós, estimados arguidos - são melhores do que na IK-6, em Vladimir”, declarou o opositor russo, usando o acrónimo da colónia penal.

“Existe, contudo, um problema – e não sei em que tribunal posso apresentar uma queixa sobre isso -, o clima aqui é mau”, acrescentou, com uma gargalhada.

Navalny foi transferido em dezembro para Kharp, a colónia penal de “regime especial” – o mais elevado nível de segurança das prisões na Rússia - onde está a cumprir pena por acusações de extremismo.

Passou meses em isolamento na Colónia Penal N.º 6 antes de ser para ali transferido. Foi repetidamente colocado numa minúscula cela de castigo devido a alegadas infrações menores, como abotoar incorretamente o seu uniforme prisional.

Também recusaram dar-lhe a sua correspondência, privaram-no de material de escrita, negaram-lhe comida que ele encomendara e pagara além das refeições normais e não autorizaram visitas da família, enumerou Navalny nos processos judiciais contestando a forma como era tratado.

No processo em que foi ouvido esta quarta-feira, Navalny contestava um período de confinamento na solitária, mas o juiz decidiu contra ele e tomou o partido dos responsáveis da prisão, tal como noutras ações judiciais que intentou.

O site noticioso independente russo Mediazona escreveu que o tribunal passou o vídeo de um incidente ocorrido no ano passado, em que Navalny gritou com um guarda prisional que lhe tirou a caneta.

O guarda acusou então Navalny de o ter insultado, e o político foi metido numa cela de castigo durante 12 dias.

De acordo com a notícia, o opositor russo admitiu esta quarta-feira que não devia ter “gritado” com o guarda e que se excedeu ao chamar-lhe nomes, mas argumentou contudo que tinha o direito de ter a caneta e que não devia ter sido castigado pelos funcionários da prisão.

Perguntou também aos representantes da colónia penal se tinham celebrado a sua transferência com “uma festa ou ‘karaoke’”, fazendo rir o juiz, relatou o Mediazona.

Alexei Navalny encontra-se atrás das grades desde janeiro de 2021, quando regressou a Moscovo depois de recuperar na Alemanha do envenenamento com um agente neurotóxico desenvolvido na era soviética para fins militares, pelo qual responsabilizou o Kremlin.

Antes da sua detenção, fez campanha contra a corrupção das elites no poder na Rússia, organizou grandes manifestações anti-Kremlin e candidatou-se a cargos públicos.

Foi, desde então, condenado a três penas de prisão, rejeitando todas as acusações de que foi alvo, que classificou como politicamente motivadas.

Na terça-feira, disse, numa declaração publicada numa rede social a partir da prisão, que os guardas da prisão de Kharp o acusaram de se recusar a “apresentar-se de acordo com o protocolo” e lhe impuseram sete dias na solitária.

“A ideia de que Putin se contentaria com enfiar-me numa fortaleza no polo norte e deixaria de me torturar na cela de confinamento era não só cobarde, como também ingénua”, afirmou.

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