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«A culpa é dos netos da Ribeira»

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Vizinhos de Bruno «Pidá» falam em família «seríssima» e revelam-se surpreendidos com a situação. Reina o silêncio, o respeito e a distância sobre as suspeitas. Suspeitos detidos foram indiciados por terrorismo. Porquê?

Foi uma segunda-feira «diferente», na ressaca da violenta e precisa operação da Polícia Judiciária, que varreu dezenas de casas e prendeu 14 pessoas em vários locais do Porto. Ninguém acordou indiferente da «Noite Branca», nome de guerra utilizado para colocar um ponto final na onda de violência.

Os silêncios são ensurdecedores, mas no prédio onde mora Bruno «Pidá», um dos principais suspeitos de envolvimento na morte de outros seguranças, residia a tranquilidade e, até, respeito. Menos contido e claramente «indignado» estava o presidente da Junta de Freguesia de S. Nicolau, responsável pela zona mais nevrálgica da Ribeira: «A quarta geração de pessoas que vive aqui é que está a criar esta situação, com ódios mútuos movidos pelo dinheiro, pela necessidade de ter mais do que o outro».

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Jerónimo Ponciano, autarca desde 1976, e presidente da Junta há 21 anos, conhece bem o local. «Podia haver harmonia e paz, mas os negócios do dinheiro estragam tudo. Tem que haver cobro a isto e punir os criminosos, sejam eles quem forem», conta ao PortugalDiário, lamentando que tudo esteja «a mudar muito». No seu raciocínio, conclui que «os netos da Ribeira estão a estragá-la», pois, «são muito diferentes dos avós». Ainda assim, «muita da degradação existente tem a ver com o mau acompanhamento dos pais», e isso pode «continuar a acontecer com a geração seguinte».

«Uma família respeitável»

Por implicação directa do «gangue» da Ribeira nos homicídios na noite do Porto, é muito o cuidado das gentes no contacto com os jornalistas. As famílias dos mortos já não falam, remetem-se ao silêncio, preferem esperar para ver o que vai acontecer aos onze homens detidos pela PJ. Muitos deles são testemunhas de acusação.

Um pouco mais longe, no local mais mediático da intervenção policial, a acalmia é praticamente total. Em plena Rua do Almada, umas das artérias históricas da cidade, surge o prédio onde foi encontrado Bruno «Pidá». Um edifício com três andares e onde há espaço para tudo, começando pelo cabeleireiro, passando pelo escritório de advogados, gabinete de «espiritismo» e terminando na residência Cardoso, onde residem avós, mãe e restantes familiares do mais mediático dos implicados neste processo.

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«Os avós do senhor detido são da maior respeitabilidade, já muito idosos e pessoas seríssimas. Mal conheço a sua filha, sei que morreu o marido há algum tempo, e sobre o rapaz nada sei», referiu ao PDiário Arnaldo Mesquita, conhecido advogado da cidade, também destacado pela sua luta anti-fascista. Já no final de carreira, possui escritório no prédio e diz conhecer estas pessoas «há cerca de 50 anos», por isso tudo isto o «surpreendeu».

Porta arrombada

Um das imagens mais poderosas trazidas pelas televisões que acompanharam a rusga policial de domingo foi a entrada brusca no prédio de «Pidá», recorrendo mesmo a um barrote para arrombar a porta comum. Foi esse cenário que Dona Laura, proprietária do «Salão Queirós», encontrou ao final do dia. «Estive na aldeia e quando cheguei a porta estava escancarada. O que soube foi pelas minhas clientes que aqui vieram hoje e me contaram o que viram na televisão. Eu não me apercebi de nada e até posso dizer que se passam semanas em que não vejo ninguém da família», contou a inquilina do primeiro andar traseiras, habituada à sua pacatez e com vontade de continuar com a sua «vidinha».

Vive «há cerca de trinta anos» no mesmo prédio, mas nunca se apercebeu de nada ilícito no terceiro andar, onde vivia «Pidá». «Só lhes dizia bom dia e boa tarde se passasse por eles. Não tenho mais nenhuma referência», concluiu, numa expressão que resume o sentimento local. Respeito, calculismo e distância.

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